sábado, 21 de junho de 2008

APOCALIPSE


A SEGUNDA VISÃO
DEUS É O SENHOR DA HISTÓRIA
(4:1-16:21)
Pelo Pr. Carlos R. Cavalcanti

As perseguições, as injustiças, as privações do direito a liberdade e a vida; uma falsa paz imposta como se fosse verdade; quem não prestasse culto ao imperador era perseguido pelo governo e era lhe tirado o direito de comprar e vender. Tudo isso gerava um sentimento de fragilidade, insegurança e incredulidade que os fazia pensar que Deus não se importava com eles e havia perdido o controle da situação por isso o mundo estava desgovernado. Porém, na visão, João vê que Deus está no trono e que o trono de Deus é o centro do governo de toda a história.

1- A VISÃO DO TRONO DE DEUS
· Uma porta aberta no céu (V.4:1)
“Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta aberta no céu. A voz que eu tinha ouvido no princípio, falando comigo como trombeta, disse: Suba para cá, e lhe mostrarei o que deve acontecer depois dessas coisas” (4:1).
O capítulo 4 é a segunda parte do apocalipse, e começa com uma visão mística onde João vê no céu uma porta aberta e é convidado a entrar pela voz que ele já havia ouvido antes como de trombeta. Quando o apocalipse esta sendo escrito a igreja estava passando por sérias dificuldades: O imperador Domiciano que se autodenominava divino e senhor, governava do trono de Roma decidindo o destino do mundo. Declarou perseguição geral e cruel a todos os cristãos que não prestassem culto a ele. Diante destas dificuldades, queriam ver logo o Reino de Deus concretizado na história, ansiando pela parusia.

· Imediatamente me vi tomado pelo Espírito (V.2)
“Imediatamente me vi tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no céu e nele estava assentado alguém” (4:2).

Este assunto já foi comentado em (1:10). Esse arrebatamento não precisa ser interpretado de forma literal como se João tivesse saído deste mundo e entrado no céu. Ser “tomado pelo Espírito[1]” é sair fora de si mesmo, cair em êxtase místico, ser levado em Espírito para um plano diferente da realidade a que estamos acostumados, deixar de ver e ouvir apenas com os olhos e ouvidos materiais, passando a ver e ouvir com os olhos e ouvidos do espírito. (Algumas versões diz: “em espírito”).

· Diante de mim estava um trono no céu (V.2)
Ao ser tomado em Espírito, a primeira visão que João tem no céu é a de um trono; não de qualquer um trono, mas do trono de Deus. Para os cristãos do tempo de João que viviam sob a tirania de Domiciano, vendo soldados comandados pelo trono de Roma... isso era algo importantíssimo. Ou seja, João estava afirmando que quem comandava a história não era o trono de Roma, mas o trono que estava armado no céu; quem comandava a história da humanidade não era o imperador que afirmava ser Divino, Salvador, Benfeitor e Senhor, mas Deus que está no Seu sublime trono no céu.
Se o trono está armado no céu, é porque está distante de toda influência e armação pecaminosa.
Muitas vezes quando somos apanhados pelas intempéries desta vida, somos tentados a questionar se, de fato, Deus está no governo de tudo. Ficamos a pensar se os esquemas políticos, se os interesses dos grandes empresários que cogitam para reduzir o nível de vida da maioria não estão com as rédeas da história.
Todavia, o trono tem um dono. No (V.2b) João declara: “Nele estava assentado alguém”. O que João afirma é algo tremendo: o mundo não está desgovernado. As coisas não acontecem por acaso, não é destino nem coincidência. Tem alguém assentado no trono que governa toda história.
João sabe que tem alguém sentado no trono, e o simbolismo para descrever Aquele que jamais foi visto, é a beleza de certas pedras preciosas conhecidas no A. T. : jaspe, sardônio e esmeralda.
O Rev. Caio Fábio, no livro Avivamento Total, afirma sobre este alguém que está no trono: “João nem ousa dar nome a esse poder dos poderes. Diz, simplesmente, que Ele é alguém[2]. Deus é alguém no trono. Porque é alguém, não é algo, não é impessoal”. João usa três símbolos que resumem o que não pode ser definido.


2- OS SÍMBOLOS DO GOVERNO DE DEUS
Ao contemplar o trono de Deus (centro do governo universal) João, também, vê alguns símbolos que marcam radicalmente a visão.



· Um arco-íris (V.3)
“Aquele que estava assentado era de aspecto semelhante a jaspe e sardônio. Um arco-íris, parecendo uma esmeralda, circundava o trono” (V.3),

O arco-íris: símbolo da salvação remonta aos dias de Noé (Gn.9:9-19), onde Deus faz aliança com a humanidade de não mais destruir a terra por água. Porém, haverá uma destruição radical de todo o Cosmo[3] dando lugar a um novo céu e a uma nova terra[4] perfeitamente adaptada aos remidos pelo sangue do Cordeiro de Deus. A idéia de que todo o Universo desaparecerá por ocasião do juízo de Deus como diz as Escrituras, não era bem aceito pelos teólogos antigos porque eles não tinham o conhecimento científico a respeito do Universo como os teólogos modernos têm.

A Cosmologia moderna aponta para esse fim o qual a Bíblia não deixa dúvidas:

Mas eles deliberadamente se esquecem de que há muito tempo, pela palavra de Deus, existem céus e terra, esta formada da água e pela água. E pela água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído. Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento. O dia do Senhor, porém virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada. Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoa é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor. Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça (2Pe. 3:5-13 – grifo meu).

A destruição, todavia, não significa a aniquilação da matéria. É uma (apokatastasiz, restauração (At. 3:21)); um livramento do cativeiro da corrupção (Rm.8:21). Deus fará uma mudança radical a partir da própria matéria: “E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras” (Ap.21:5).

· Vinte e quatro anciãos (V.4).
“...ao redor do qual estavam outros vinte e quatro tronos, e assentados neles havia vinte e quatro anciãos. Eles estavam vestidos de branco e na cabeça tinham coroas de ouro” (V.4).

Símbolo do povo de Deus redimido, transformado: Coroas de ouro nas cabeças, vestidos de branco. Na numerologia apocalíptica, as 12 tribos de Israel + os 12 apóstolos de Jesus, ou seja, é a representação do polvo de Deus nas duas alianças. Segundo o biblista José Bartoline o numero 24 que é a soma de 12 + 12 é um numero simbólico, perfeito, esse número não exprime quantidade, mas qualidade, representado todos os eleitos de Deus em Cristo Jesus, que enfrentou a morte e ressuscitou (coroa de ouro na cabeça). São todos os mártires de todos os tempos e lugares. Na verdade, esses vinte e quatro anciãos que estão sentado em tronos ao redor do trono de Deus são representantes da igreja[5] que participaram do governo de Deus na história (cf. Mt. 19:28).

· Relâmpagos, vozes e trovões (V.5)
“Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões. Diante dele estavam acesas sete lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus” (V.5).

Relâmpagos, vozes e trovões são elementos que desde o Antigo Testamento representam a presença e ação de Deus na história (mostrando a Sua grandiosidade diante da pequenez do homem). Em última análise a ira da tribulação Divina está prestes a atingir os moradores da terra. Há uma indignação de Deus que deve intervir em um mundo que se tornou totalmente louco em sua iniqüidade.

· Quatro seres viventes (V.6)
“E diante do trono havia algo parecido com um mar de vidro, claro como cristal. No centro, ao redor do trono, havia quatro seres viventes cobertos de olhos, tanto na frente como atrás.” (V.6).

Deus é o Senhor da história e reina soberanamente do Seu trono e o mal simbolizado pelo mar está totalmente congelado à Sua frente. Os quatro seres viventes coberto de lhos por dentro e por traz representa a Onisciência de Deus, a plenitude do Espírito Santo. As imagens dos quatro seres vivos foram tomadas do profeta Ezequiel, e tem um sentido especial no apocalipse:
a- O leão, considerado o rei dos animais selvagens, é o símbolo da majestade e da coragem. Isso caracteriza o poder de Deus, nos céus e na terra;
b-O touro, rei dos animais domésticos, é o símbolo da força. O touro também é um animal paciente. Assim também o poder de Deus é administrado em meio a paciência;

c- O homem, rei da criação, o símbolo da inteligência. Cristo é o homem Ideal, e toda a benevolência Divina em favor da redenção do homem opera através de Cristo, buscando fazer dos homens tudo aquilo que o Filho de Deus é e possui, ou seja, participante da Sua própria natureza. Disso é que consiste a salvação.

d- A águia, rainha das aves, o símbolo da velocidade. A gostinho comparava o jugo de Cristo às penas das asas de um pássaro, Se aceitarmos esse jugo, seremos elevados espiritualmente por Ele. Assim também, o símbolo místico da águia aparentemente significa que a revelação de Deus, em nosso caso , terá o poder de elevar-nos, como se fora uma águia no vôo, sendo a águia uma das aves de vôo mais poderosa e majestosa, esse símbolo é usado para representar a atuação do infinito no finito.

· Santo, santo, santo é o Senhor (V.8)
A santidade de Deus é incomparável e celebrada
“Cada um deles tinha seis asas e era cheio de olhos, tanto ao redor como por baixo das asas. Dia e noite repetem sem cessar: “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir” (V.8).

A celebração no céu continua, proclamando Deus como criador de todas as coisas. É um convite a que as igrejas façam o mesmo: adorem ao Senhor, nosso deus porque ele é digno de receber a glória, a honra e o poder. Os Seres vivos celebram aquilo que as igrejas também celebram em sua caminhada de fé, e resistência. Os vinte e quatro anciãos participam dessa celebração, mostrando como deve celebrar as igrejas: A cada vez que os Seres vivos fazem isso, os vinte e quatro Anciãos se ajoelham diante daquele que está sentado no trono para adorar aquele que vive e reina para todo sempre.
Nas igrejas as celebrações eram de resistência: proclamavam que a glória a honra e o poder pertencem somente a Deus. O imperador que se achava um deus, por sua vez resistia a essa situação com perseguições.


[1] “Os tradutores ou revisores erraram, por não grafar aqui no “Espírito”, com o “E” maiúsculo, Está em pauta o Espírito Santo, que é o inspirador das profecias do N. T. Ele é quem conduz a alma a Deus, no arrependimento e na fé originais (conversão) na santificação ou no crescimento espiritual. Mas outros estudiosos pensam que “no espírito” são palavras que aludem ao espírito do próprio João, separado o corpo, projetado da esfera terrestre aos lugares celestiais. Em outras palavras, “em seu espírito”, separado do corpo, ele pode entrar nos céus e receber suas visões”. (Comparar com II Co. 12:2 e ss.). (R. N. Champlin. Ph. D. Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. Editora Candeia. p. 440).

[2] COMENTÁRIO: Bíblia de Estudo de Genebra (V.2b). “Os detalhes da aparição de Deus não são descritos, lembrando-nos que sua grandeza e glória sempre excedem a compreensão humana”. p. 1532.

COMENTÁRIO: Bíblia de Estudo de Jerusalém (V.2b). “João evita descrever Deus sob forma humana e nem sequer o denomina: limita-se a sugeri-lo através de visão de luz”. “A cena toda se inspira em Ez. 1 e 10 (cf. também Is. 6)”. p. 2146.

COMENTÁRIO: Bíblia de Estudo Edição Pastoral (V.2b). “João apresenta Deus como rei e juiz que governa a história (trono), mas seu governo é dirigido pelo amor e misericórdia (arco-íris: Gn. 9:13ss), pois Deus só quer a vida: ele é santo e transcendente (brilho das pedras preciosas)”. p. 1594.

[3] “Tanto o Antigo como o Novo Testamento apontam para uma nova criação, quando os céus e a terra atuais envelhecidos, serão dobrados como umas veste antiquada” (H. Orton Wilehy, S.T.D. e Paul T. Culbertson, Ph. D. Introdução a Teologia Cristã. Casa Nazareno de Publicações. São Paulo 1990. 516p.).

COMENTÁRIO: Bíblia de Estudo de Genebra (Is. 34:4). Ver Hb 1:10-12; 2Pe 3:12. “Assim como o Senhor estendeu os céus por ocasião da criação (42:25), no fim ele os enrolará” (Mc 13:24-25; Ap 6;13).

[4] “A consumação das épocas marca o fim glorioso do reino de Deus. Então o reino terá um novo início em novos céus e nova terra feitos um só. Aquele reino será eterno porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap. 22:5). (H. Orton Eilehy, S.T. D. e Paul T. Culbertson, Ph. D. Introdução a Teologia Cristã. Casa Nazareno de Publicações. São Paulo 1990. 516p.).

[5] COMENTÁRIO: Bíblia de Estudo de Genebra (V.4). “Esses ministros angelicais (7:13) são chamados aqui “anciãos” (grego presbyteros) por causa de sua sabedoria. Como oficiais do gabinete de Deus, eles devem refletir a sabedoria divina que é simbolizada pela idade (Dn. 7:9) . O termo “ancião” ou “presbítero” também sugere uma analogia com os anciãos da Igreja que servem na terra, por isso, alguns sugeriram que os anciãos aqui são simplesmente uma representação da Igreja”. p.1532.

COMENTÁRIO: Bíblia de Estudo Shedd (V.4). “O número é uma cifra completa, que sugere os doze patriarcas das tribos de Israel e os doze apóstolos, simbolizando dessa maneira a unidade dos salvos de todos tempos (cf. Ef. 2:11-22). Podem ser anjos que participam do governo do Universo” (cf. Sl 89:7; Is 24:23; Êx. 24:11). p.1763.