sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A SOBERANIA DE DEUS E O LIVRE ARBÍTRIO







A SOBERANIA DE DEUS
E O
LIVRE-ARBÍTRIO


2007


CAVALCANTI, Carlos R.
A Soberania de Deus e o Livre-Arbítrio. Recife. Editora C R C, 2007. 120p.
Conteúdo: Doutrinário. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações com indicação da fonte.


ÍNDICE
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INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1
A SOBERANIA DE DEUS....................................................17

1.1 Os eternos decretos de Deus.....................................................17
1.1.1 Os decretos de Deus abrangem todos os acontecimentos.........24
1.1.2 Os decretos são “imutáveis”, “livres”, “eficazes” e
“visam a glória de Deus”..........................................................31
Deus é imutável, Seus decretos também são...............31
A liberdade dos decretos de Deus.................................35
A eficácia dos decretos de Deus....................................40
Os decretos visam a glória de Deus..............................43

1.1.3 Objeções aos decretos de Deus................................................45
1.1.4 A questão do mal.....................................................................51


CAPÍTULO 2
O LIVRE-ARBÍTRIO............................................................61

2.1 As heresias pelagianas..............................................................63
2.1.1 As doutrinas pelagianas............................................................65

2.2 As heresias de Erasmo..............................................................67
2.2.1 As doutrinas de Erasmo............................................................68

2.3 As heresias arminianas.............................................................69
2.3.1 Os cinco pontos arminianos foram tirados de um
manuscrito de Armínio.............................................................70
· Livre-arbítrio ou capacidade humana..........................70
Eleição condicional......................................................71
Redenção universal ou expiação geral..........................72
Graça resistível...............................................................72
Perda da salvação..........................................................73
Refutando os arminianos nos Cânones de Dort............................74

· Depravação total: Incapacidade total do homem........75
· Eleição incondicional: Decreto eterno de Deus..........76
· Expiação limitada: A eficácia da morte de Cristo.......77
· Graça eficaz: A vontade do homem não é eliminada,
mas vivificada.............................................................79
· Perseverança dos santos: A certeza desta
preservação.................................................................80

2.4 O livre-arbítrio arminiano nega a soberania de Deus...............82
2.4.1 O homem não ficou reduzido a um estado de
incapacidade total.....................................................................83
2.4.2 A graça de Deus: um favor imerecido......................................85
2.4.3 As comparações de Paulo torna sua mensagem
compreensível...........................................................................91
2.4.4 A doutrina calvinista da depravação total.................................95

2.4.4.1 A depravação parcial arminiana foi refutada no Sínodo
de Dort (1618 – 1619)............................................................97
2.4.4.2 Os versículos bíblicos usados pelos arminianos....................98
2.4.5 João Wesley ratifica a doutrina da depravação total............101
2.4.6 Norman Geisler e sua tentativa de conciliar eleição e
livre-arbítrio.........................................................................103

CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


“Desde toda a eternidade, e pelo sapientíssimo e santíssimo conselho de sua própria vontade, Deus ordenou livre e imutavelmente tudo quanto acontece; porém, de modo tal que nem é Deus o autor do pecado, nem se faz violência à vontade das criaturas, nem é tirada a liberdade ou contigência das causas secundárias, antes são estabelecidas” (Confissão de fé Westiminster. Editora os Puritanos, Seção I - 1999:95).

“Embora Deus saiba tudo quanto pode ou há de suceder em todas as circunstâncias imagináveis, contudo não decretou coisa alguma por havê-la previsto como futura, nem como algo que haveria de acontecer em tais circusntâncias”
(Confissão de fé Westiminster. Editora os Puritanos, Seção II - 1999:95).


INTRODUÇÃO
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Duas questões fundamentais que a ortodoxia cristã não abre mão: A soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Portanto, esta pesquisa visa orientar o laico quanto a ignorância a respeito das antigas doutrinas da graça que têm sido esquecidas e adulteradas através dos séculos. Mostraremos que Deus é soberano e governa suas criaturas de acordo com o conselho da Sua vontade[1] e que o homem não tem a liberdade de responder positivamente as coisas espirituais como os arminianos dizem que têm.
O estudo da soberania de Deus ajuda-nos a entender por que a idéia do livre-arbítrio é incompatível com as Escrituras. Toda revelação bíblica repousa não na presciência do que fará o homem, mas nos decretos estabelecidos por Deus[2] de que tudo o que acontece foi planejado por Ele e para Ele, isso na eternidade, a fim de que acontecesse justamente como foi ordenado. O nome do SENHOR, assim, é glorificado porque mesmo que o mal pareça está vencendo, na visão de João, na Ilha de Pátmos, ele vê alguém sentado em um alto e sublime trono governando soberanamente, mostrando quem na verdade tem todo o poder e merece receber toda glória. Ele não ousa citar nem o nome de quem está sentado no trono, diz apenas que o trono está armado no céu e tem alguém sentado nele[3].
Jesus que é o princípio e o fim de todas as coisas; esteve morto, mas tornou a viver e está vivo pelos séculos dos séculos, mantendo a autoridade, o controle e o domínio sobre vivos e mortos (Ap.1:18)[4]. Ele revela a João, por intermédio do Seu anjo, as coisas que em breve devem acontecer (cf. Ap.1:1)[5] sem que ninguém possa influenciar algo do que foi revelado ao vidente, ou seja, o homem não pode mudar aquilo que foi estabelecido pelo Eterno e Soberano Deus. A revelação, diz João, estava oculta, guardada com sete selos e o seu conteúdo foi decretado antes da fundação do mundo para que acontecesse, justamente, no momento previamente ordenado por Deus (cf. Ap.5:1-14).
O segundo capítulo fala sobre o livre-arbítrio. Mostraremos que toda a Bíblia relata que o homem não tem a liberdade que pensa possuir, pois ela é escrava.
Se quisermos, de uma forma sábia, desenvolver alguns comentários a respeito do livre-arbítrio, temos primeiro que precisar a idéia que se tem sobre o assunto a fim de podermos compreender com maior clareza o que é verdade e o que não é.
Para que algo seja livre é preciso que nada interfira (internamente ou externamente), de nenhuma forma, no objeto que supomos ser livre. Um exemplo bastante claro quanto a esse respeito encontramos na física: quando um objeto é arremessado por uma força inicial para cima ao chegar a determinada altura ele cai em queda livre. Todos responderiam, em uma prova de vestibular, que essa queda é livre. Na verdade, essa queda não é livre, porque o objeto só cai por causa da força da gravidade que o direciona ao centro da terra. Se existe uma força que direciona o objeto ao centro da terra, então a queda não é livre, da mesma forma é a vontade humana, se houver algo influenciando não pode haver liberdade. O livre-arbítrio, dessa forma, não é tão livre como se pensa. Vejamos o que é liberdade:
1) Antes da queda: Adão e Eva foram criados com a capacidade de agradar a Deus através da obediência ou de fazer o que não era do Seu agrado. Conforme afirma Agostinho, nossos primeiros pais “podiam não pecar” (posse non peccare). Todavia, a liberdade para não pecar não significa que eles tinham livre-arbítrio, posto que foram criados corpos de desejos; o que aniquila tal teoria. Ex. Ao olhar para o fruto proibido. Houve um desejo, o fruto era bonito aos olhos (cf. Gn.3:6)[6] e o desejo por saboreá-lo influenciou em sua decisão forçando-o a fazer aquilo que era proibido. Deus havia dado uma ordem[7], e o homem escolheu com base no sentimento que o dominou naquele momento, transgredindo assim, a ordenança de Deus. Sua escolha foi influenciada pela sua natureza que era de desejo. Muito embora tenha sido criado num estado de santidade, e poder fazer o que era bom aos olhos de Deus; podia, também, cair desse estado de graça. E foi o que aconteceu.
2) Depois da queda: Com a queda de nossos primeiros pais (Adão e Eva), a liberdade de fazer escolhas que agradassem a Deus foi perdida, pois a imagem de Deus no homem havia sido totalmente corrompida pelo pecado, ou seja, impossibilitada ficou de responder favoravelmente as coisas espirituais, em outras palavras, ele perdeu a verdadeira liberdade conforme afirmam os textos bíblicos em (Jo.8:34; Rm.6:6, 17-20)[8]. Agostinho explica que após a queda o homem perdeu a capacidade de não poder pecar (non posse non peccare).
3) Após a regeneração: Após a regeneração (o novo nascimento) o homem começa a recuperar a imagem de Deus corrompida na Queda. Essa recuperação é o processo de santificação que é uma obra progressiva do Espírito Santo onde alcançará seu ápice na ressurreição por ocasião da Segunda Vinda de Cristo. O processo de santificação acontece no ato da conversão quando somos batizados com o Espírito Santo, este evento é a primeira obra da graça como afirmam os reformados, e não a segunda. O estado do homem regenerado é aquele em que se pode agradar a Deus e buscar as coisas espirituais. Agostinho diz que nessa condição o homem pode não pecar (posse non peccare). Isso não significa, todavia, que o homem não peque mais, mas que ele foi liberto da escravidão do pecado que o influenciava para o mal. Morto para o pecado, o homem pode adorar ao Deus vivo na beleza da sua santidade e fazer a Sua vontade e crescer em santificação o que não significa afirmar que não se peque mais no sentido de entender que já alcançou a perfeição total[9] como afirmam alguns teólogos armínio-wesleyano. Porém, se pecarmos, temos um advogado diante de Deus, Jesus Cristo, que intercede por nós.
4) Na eternidade: Enquanto estivermos nessa marcha para o lar que nos aguarda, com certeza, estaremos sujeitos as intempéries da vida podendo agir de forma a não glorificar a Deus com determinadas ações que vão de encontro com a nossa chamada para a santidade, isso acontece mesmo contra a oposição da nossa nova natureza (cf. Gl.5:17); no entanto, aquele que nasceu do Espírito Santo não se alegra em pecar. E o que está em nós sendo maior do que aquele que está no mundo, com toda certeza, irá prevalecer porque o que começou a boa obra em nossas vidas irá terminar até o dia de Cristo Jesus.
Na Nova Jerusalém, ou seja, no estado eterno, quando estivermos totalmente transformados, revestidos da incorruptibilidade, então poderemos dizer como Agostinho: não posso pecar (non posse peccare) porque nossa liberdade terá sido aperfeiçoada em Cristo Jesus. Dessa forma podemos considerar que antes da Queda o homem era influenciado pelo desejo que operava em sua natureza; após a Queda sua natureza ficou escravizada pelo pecado; no novo nascimento acontece a libertação (libertação do pecado), porém ainda ele não está livre, a vida do cristão demonstra, segundo Russel Shedd, de quem ele é escravo[10]. Libertado do pecado passa a ser guiado pelo Espírito Santo, e no estado eterno é liberto dos desejos[11] por ocasião da sua glorificação (imagem aperfeiçoada). Portanto podemos afirmar que o livre-arbítrio é um mito sustentado pelos arminianos e católicos romanos. A verdadeira liberdade só a encontraremos em Cristo Jesus. Liberdade significa, em última análise, participar da própria natureza de Cristo. Essa liberdade não significa fazer o que bem entende, porque quem está em Cristo Jesus não faz a sua própria vontade e, sim, a do Pai Celestial. Jesus era livre porque fazia a vontade do Pai que o enviou (cf. Jo.4:34)[12].


CAPÍTULO I
A SOBERANIA DE DEUS
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1.1 Os eternos decretos de Deus.
Para entendermos a questão do livre-arbítrio temos primeiro que estudar os decretos de Deus e sua relação com a criação. Isso falo para os que nasceram de Deus, posto que o homem natural não tem a iluminação do Espírito de Deus e com certeza rejeitará essas verdades. O Teólogo John Owen expressa a seguinte verdade:

Mas nenhuma dessas doutrinas espirituais pode ser entendida ou discernida espiritualmente sem que haja a obra iluminadora do Espírito. O homem poderá conhecer as doutrinas apenas na mente; contudo, ainda estando sob o poder das trevas espirituais, não irá discernir a natureza e glória espiritual delas. Prova disso se vê em todas as orações de homens santos das Escrituras pedindo luz e instrução espiritual; em todas as promessas de Deus de iluminar os homens de forma salvadora e nas descrições de sua obra iluminadora. Todo aquele que tem discernimento e conhecimento dessas coisas certamente já experienciou essa iluminação; e sua mente será e com certeza já estás sendo transformada à imagem delas (2Co.3:18)” (OWEN, 2002: 104).

A soberania de Deus é o alicerce em que a teologia é construída, não cientificamente posto que ela não tem a obrigação de provar nada. Seu papel, conforme Hodge, “é simplesmente declarar o que Deus revelou em sua Palavra, e vindicar tais declarações até onde é possível em face os equívocos e objeções” (2001: 399).
Nosso objetivo é, nessa pesquisa, mostrar através das Escrituras e da lógica, que o plano de Deus é eterno, imutável, livre, eficaz, e visa a Sua própria glória (cf. Cl.1:16)[13], e tudo que acontece está de acordo com o que foi decretado eternamente[14]; essa é a opinião reformada. Não adianta questionar porque Ele agiu assim, Lutero diz que não compete a nós inquirir ao Criador a respeito do que Ele tem reservado para Si mesmo: “Devemo-nos interessar por aquilo que Deus nos tem revelado” (1525: 50). Há muitas coisas que fogem a racionalidade, todavia a fé dá-nos suporte[15] de não cairmos na ambigüidade, como têm acontecido com algumas pessoas, desacreditando da palavra de Deus porque não encontraram respostas satisfatórias para as suas indagações. Jó entrou por esse caminho de queixas, protestos e contendas, porém confiante no Deus da sua salvação: sabe que Seu redentor vive (cf. Jó. 19:1-29). Com a resposta de Deus, passa a ter um entendimento mais profundo do Salvador e declara: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó.42:5); Habacuque também se viu diante da mesma situação conflitiva: Deus usaria uma nação ímpia e sedenta de sangue para castigar Israel o povo da Aliança (cf. 1:13)[16]. O conflito de Habacuque termina com a resposta que é a mais grandiosa declaração das Escrituras: “O justo viverá pela fé” (Hb.2:4b).
Quem entende os desígnios de Deus? Ninguém pode entender Deus além do que foi revelado, se isso acontecesse Ele deixaria de ser Deus. Dr. Shedd faz um comentário sobre dois capítulos (Jó.38 e 42) a respeito da ignorância do homem. Vejamos o que ele declara nestas poucas linhas:

A resposta de Deus a Jó. Por um constante apelo à criação e à natureza do universo criado, Deus dá a entender a absoluta e infinita distância entre o Criador e a criatura. O homem, sendo criatura e finito, não pode compreender a infinita sabedoria de Deus, nem o mistério das Suas leis. Por estas palavras, Jó é humilhado a ponto de compreender que é inútil ao homem pensar que pode penetrar nos mistérios das ações providenciais de Deus extensivas às criaturas. Jó foi despojado de todo orgulho, e pela graça de Deus alcançou uma autêntica vitória e uma fé triunfante (1997: 765)[17].

Nada acontece sem que Ele antes tenha ordenado segundo o beneplácito da Sua vontade eterna (cf. Ef.3:11)[18] e imutável (cf. Tg.1:17; Sl.33:11)[19]. Ele é Onipotente, Onisciente e Onipresente; tudo criou no céu e na terra de acordo com o que foi estabelecido para o louvor da Sua glória. Todas as coisas, até as mais insignificantes que aconteçam, Ele sabe o resultado final, e assim acontece, porque foram estabelecidas para esse fim. Nem uma folha cai de uma árvore, na floresta amazônica, sem o Seu consentimento. Até as estrelas do céu Ele as conhece todas pelo nome (cf. Sl.147:4, 5)[20]. Portanto, ao tratarmos dos decretos de Deus, queremos dizer que Ele preordenou tudo que acontece para a Sua glória como está escrito em Efésios: “[...] predestinados segundo o propósito (proqesin - plano) daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (1:11 – parêntese e grifo nosso)[21].
Citarei Atos, mas, quero salientar que toda Bíblia revela a soberania de Deus na salvação em prol dos eleitos: “[...] sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência (wrismenh boulh kai prognwsei - determinado plano e presciência) de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos [...]” (2:23 – parêntese e grifo nosso). Se o Cordeiro de Deus foi imolado antes da fundação do mundo (cf. Ap.13:8; 1Pe.1:18b-20; At.2:23)[22] o pecado daquele pelo qual Cristo morreu, também foi decretado na eternidade. “O Catecismo Maior de Westmister” faz justiça à soberania de Deus ao afirmar que tudo Ele criou e governa segundo o que foi decretado no Seu livre, sábio e santo conselho:

Os decretos de Deus são os atos sábios, livres e santos do conselho da sua vontade, pelos quais, desde toda a eternidade, Ele, para sua própria glória, imutavelmente predestinou tudo o que acontece, especialmente com referência aos anjos e os homens. Referências: Is.45:6-7; Ef.1:11; Rm.11:33; Sl.33:11; E.1:4; Rm.9:22-23 (grifo nosso).

Apesar dos decretos serem muitos para nossa compreensão finita como afirma Berkhof (2002), para Deus é apenas um, em que Ele assegura todo o seu cumprimento[23]. A. W. Tozer também entende que Deus governa toda Sua criação pelo Seu decreto: “A soberania de Deus é o atributo pelo qual Ele governa toda a Sua criação, e para ser o Deus soberano, Ele tem de Ser onisciente, todo poderoso e totalmente livre” (2003:47).

1.1.1 Os decretos de Deus abrangem todos os acontecimentos.

A doutrina da Bíblia consiste em que todos os acontecimentos, necessários ou contingentes, bons ou pecaminosos, estão incluídos no propósito de Deus, e que sua futurição ou ocorrência real resulta absolutamente infalível (HODGE, 2001: 404).

Não existe nenhum acontecimento que esteja fora do propósito eterno de Deus. Porém, quando se fala dessa forma vêm a nossa mente os horrores e calamidades que assola a humanidade e Deus sendo bom não poderia agir assim. Mas o Seu projeto caminha, infalivelmente, em meio a violência causada pelo pecado ao seu destino final da mesma forma como foi traçado na eternidade. Na revelação bíblica, podemos observar que várias atrocidades de uma maldade impressionante ocorreram como meios para se chegar a fins predeterminados. Vejamos: a matança das crianças de Belém (cf. Mt.2:16-18)[24]; o coração do Faraó foi endurecido, e os seu primogênitos morreram devido a esse endurecimento, para que o nome de Deus fosse reconhecido por toda a terra (cf. Rm.9:17)[25]. Faraó nasceu com o objetivo de servir aos desígnios de Deus através da sua derrota. Ele foi mantido sob circunstâncias criadas pela sua própria natureza corrompida, porém decretada antes da fundação do mundo pelo Altíssimo. As crianças jogadas no Rio Nilo (cf. Êx.1:22)[26]; o sofrimento dos israelitas no Egito (cf. Êx.1:11)[27], tudo esta dentro dos planos permissivos de Deus como afirmam os reformados; todas as pragas, e a morte dos soldados de Faraó no Mar Vermelho (cf. Êx.14: 26, 30)[28] foram acontecimentos que corroboraram para a libertação dos israelitas (cf. Êx.15:1-27), como meios para atingir determinados fins. Hodge afirma que o que acontece Ele permitiu. O que Ele permitiu certamente ocorrerá dentro desta permissibilidade (2001). “Nada pode ocorrer que não tenha sido previsto; e, se foi previsto, certamente foi assim tencionado” (HODGE, 2001: 404).
Todo mal surge com a corrupção do homem devido a Queda[29], o qual está incluído nos decretos permissivos de Deus. Os arminianos afirmam que se o homem não pode escolher entre o bem e o mal ele não é responsável por suas ações. Na verdade, essa responsabilidade existe, foi dada ao homem no pacto das obras quando o SENHOR ao exigir obediência disse: “[...] mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn.2:17). Com a Queda a imagem de Deus no homem é corrompida, porém a responsabilidade da sua transgressão continua e é transmitida juntamente com o pecado aos descendentes de Adão (cf. Rm.5:12)[30].
O plano de criação foi arquitetado na mente do Soberano, conforme afirma Hodge (2001), e nada pode ficar de fora, nem os pequenos, nem os importantes acontecimentos sejam eles santos ou pecaminosos (cf. Is.14:27; Sl.105:3)[31]. Deus permite que o mal aconteça, e o meio utilizado para que todas as coisas concorram para o bem daqueles que amam a Deus é o desejo que opera no homem. Vejamos um exemplo em que o desejo de cada pessoa é influenciado: Jesus explica o motivo pelo qual os fariseus não entendiam a sua mensagem, não era porque fosse uma mensagem difícil, tendo em vista que os pequeninos entendiam, o motivo era que havia uma força operando nos seus corações que lhes cegava o entendimento. O desejo dos fariseus era satisfazer a vontade daquele que os dominavam: o diabo. Disse Jesus para os fariseus que estavam no meio da multidão: “Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos” (Jo.8:43-44), portanto Jesus não deixa dúvidas: quem é filho de Deus é influenciado pelo Seu Espírito para fazer a Sua vontade (cf. Jo.8:42)[32], quem é filho do diabo é influenciado por ele. Como podemos pensar que o homem tem livre-arbítrio?
Segundo Lacan (VIVER: Mente e Cérebro, 2006) o homem é um vazio de desejo insaciável e esse desejo latente busca a completude e a satisfação que não encontra (o que Lacan chama, por não compreender, de objeto “a”) o Cristianismo chama de ausência de Deus.
O homem depois da Queda passou a ser influenciado pela sua natureza corrompida; após a regeneração (o novo nascimento), ele passa a ser guiado pelo Espírito Santo de Deus que habitará nele (cf. Jo.14:23)[33], portanto o livre-arbítrio do homem não é livre como ensinam os católicos, judeus, semipelagianos e os arminianos. Para que algo seja realmente livre não pode haver nenhuma força interagindo[34] de forma que gere a necessidade e a satisfação de saciar determinados desejos. Só Deus é completamente livre em suas ações podendo nos dá liberdade nEle (cf Gl.5:1)[35]. Essa liberdade é justamente o contrário daquilo que o homem está acostumado a ouvir. Significa, sobretudo, dependência de Deus, como uma criança que necessita do pai para sobreviver. Uma vez um homem embriagado estava falando em alto e bom som: “Eu sou livre! Bebo e fumo porque quero, faço o que eu quero, pois tenho livre-arbítrio. Isso é liberdade? Ele nem sabe que é escravo de Satanás e está agindo segundo sua natureza corrupta. Age como o Abutre, é livre para voar, mas se colocá-lo diante de um milharal e de uma carniça ele nunca irá escolher o milharal porque é a da sua natureza escolher a carniça.


1.1.2 Os decretos são “imutáveis”, “livres”, “eficazes” e “visam a glória de Deus”.

· Deus é imutável, Seus decretos também são.
O homem ao realizar um projeto pode depois mudá-lo em alguns pontos e colocar arranjos para melhorar sua obra. Isso acontece porque somos limitados, não conhecemos tudo, estamos sempre aperfeiçoando-nos, reciclando-nos a fim de podermos melhor desempenhar nossas atividades. Por causa de um erro de calculo um prédio construído com tanto cuidado pode ser interditado para que sejam os erros reparados. O homem precisa aprender para poder calcular com precisão, para chegar a um fim satisfatório, mesmo assim, há erros, mínimos, que são desconsiderados.
Com o Arquiteto do Universo não é assim, Ele não precisa aprender, pois Seu conhecimento é completo, Ele não vê em partes, vê o todo, é seguro no que faz: (Onipotência, Onisciência e Onipresença). Seu plano é imutável, pois Ele é infinitamente sábio em conhecimento, nEle “[...] não pode existir variação nem sombra de mudança” (Tg.1:17); “O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração por todas as gerações” (Sl.33:11); “Jurou o SENHOR dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se efetuará” (Is.14:24); não há dúvidas de que tudo que acontece foi ordenado por Deus[36]:

Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade (Is.46:9-10).

Até Aristóteles sem ter a revelação bíblica reconheceu a imutabilidade de Deus. Ele fez uma comparação interessante quando trabalhou a questão da “potência”, do “movimento” e do “ato”. Afirmou que Deus é imutável, pois o Universo é constituído de motores que um move o outro, porém Deus é o motor imóvel, ou seja, ato puro, não precisa de mudança:

Como já afirmavam os pitagóricos, o mundo supralunar estaria constituído por uma sucessão de esferas, cada qual movimentando-se em função da esfera imediatamente superior, que atua como motor. Essa sucessão de motores-móveis terminaria – já que o universo seria finito – num primeiro motor, este imóvel (para ser o primeiro), e que Aristóteles chama de Deus. Ato puro, pois do contrário se moveria [...] (OS PENSADORES, 2000: 22).

Se Deus é imutável seus decretos também são (cf. Jó.23:13)[37]. Ele é fiel e verdadeiro e “[...] vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído!” (Lc.22:22 – grifo nosso). Eles não sabiam quem O haveria de trair, mas Cristo conhecia porque já estava decretado que Judas seria o traidor, pois havia nascido para cumprir esse propósito. A Bíblia o chama de filho da perdição (cf. Jo.17:12b)[38]; o anticristo também é chamado assim (2tss.2:3)[39]; filho da perdição significa, em última análise, aquele que nasceu para a perdição a fim de que se cumpra o projeto de Deus. Isso não implica em pensar que Judas e todos os que se perdem foram arrastados à força a esse fim, como marionetes, perdendo, segundo os arminianos, suas responsabilidades, tornando o castigo eterno uma injustiça. A Bíblia ensina que cada um é responsável pelas suas ações. Veja o que diz o texto: “[...] mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído!” (Lc.22:22b). Judas nasceu para esse fim (objeto de cumprimento da profecia), isso não é um “carma”, porém, Deus usa soberanamente meios preordenados para que se realize o que Ele determinou na eternidade para o louvor da Sua glória. Judas foi responsável pelo seu ato, mesmo estando predestinado a esse fim. Portanto, o versículo acima ilustrou muito bem e não deixa dúvidas que mesmo Deus tendo criado vasos para a perdição a responsabilidade pela qual ele se perde é uma herança da sua culpa original, pois todos pecaram. “[...] todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está descrito: Não há justo, nem um sequer” (Rm.3:9b-10).

· A liberdade dos decretos de Deus.
O caráter absoluto da liberdade, com que Deus decretou (cf. Sl.2:7)[40] todas as coisas que iriam acontecer, é negado pelos “semipelagianos” e “arminianos”, por quê? Porque estes acreditam que o Soberano decretou de acordo com o previsto no que faria o homem, ou seja, Deus predestinou, para a salvação, aqueles que pela sua presciência Ele viu que se arrependeriam[41]. Se fosse assim, o decreto não seria “imutável”, “livre”, “eficaz”, e não “visaria a glória de Deus”. O decreto da eleição deixaria de ser decreto absoluto, pois dependeria da vontade humana de crer; a graça também deixaria de ser um favor imerecido, pois nesse caso haveria uma centelha de virtude no homem contribuindo com a graça para a salvação. Os fariseus acreditavam que pelo cumprimento da Lei alcançariam a justiça de Deus, o apóstolo Paulo trabalha muito bem essa questão afirmando que a salvação é exclusivamente pela fé[42]. Atualmente vemos os pentecostais inseridos no erro farisaico ao afirmarem que contribuem (obras, méritos que eles acreditam possuírem, virtudes pelas quais eles podem decidir se desejam ser salvos ajudando a graça a completar a obra de justificação)[43] com a graça salvadora para serem justificados diante de Deus, portanto, assim como os fariseus do século I gloriavam-se na Lei e desonravam a Deus pela transgressão da mesma (cf. Rm.2:21-24), os arminianos agem da mesma forma: desonram a Deus roubando-lhE a glória afirmando que contribuem com suas próprias obras para a salvação, e como Deus não outorga sua glória a outrem isso significa blasfêmia (cf. Rm.2:24). Os reformados entendem, conforme as Escrituras revelam: o homem natural é incapaz de contribuir para a sua salvação posto que, morto nos seus delitos e pecados, não tem inclinação para buscar as coisas espirituais a não ser que o vento do Espírito Santo (cf. Jo.3:8)[44] sopre, dando-lhe vida: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef.2:1). Como pode um morto no pecado buscar a Deus, santo em toda Sua plenitude? Jesus falou aos fariseus por que eles não entendiam e isso vale para os fariseus de todas as épocas. O Evangelho de João esclarece o motivo pelo qual o homem natural não entende a palavra de Deus: “Respondeu-lhe Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo.10:25-26). Só as ovelhas que foram escolhidas pelo Pai ouvem a voz do Bom Pastor. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós [...]” (Jo.15:16). A liberdade de Deus é absoluta, nada O influencia a agir de uma forma ou de outra. Só Ele tem livre-arbítrio para fazer escolhas sem ser influenciado por qualquer tipo de desejo. Deus não precisa de nada, Ele é eterno e absoluto, tudo faz como lhe agrada (cf. Sl.115:3)[45]. Quando Ele decidiu criar o mundo Ele criou porque assim lhe aprouve, não por necessidade, pois todas as coisas foram criadas para honra e glória do Seu nome. Essa é a posição de Hodge quanto aos decretos livres de Deus:
Os atos realizados sob a diretriz do instinto não são livres, porquanto liberdade é uma libentia rationalis, espontaneidade determinada pela razão. Inclui-se, pois, na idéia de Deus, como ser racional e pessoal, que seus decretos são livres. Ele era livre para criar ou não criar; para criar um mundo tal como agora existe ou um mundo inteiramente diferente. Ele é livre para agir ou não agir, e, quando se propõe a agir, não é devido a alguma necessidade cega, mas conforme o conselho de sua própria vontade (2001: 402).

Deus age como quer porque é livre, soberano do Universo, é absoluto, nada falta em Seu Ser. A. W. Tozer diz que Ele é livre porque ninguém pode impedi-Lo, influenciá-Lo ou detê-Lo (2003). A liberdade de Deus vai muito além do que A. W. Tozer afirma, ou seja, Seu arbítrio é livre, nada interage influenciando-O em Suas decisões. Só Ele age assim com liberdade total porque nada pode afetá-Lo. Ele existe em Si mesmo, porque não tem princípio nem terá fim.



· A eficácia dos decretos de Deus.

Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás? (Is.14:27); Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? (Is.43:13).

Tudo o que Deus preordenou ocorrerá infalivelmente assegurando o cumprimento do que Ele decretou. Os eventos concernentes a “Vinda do Messias” na plenitude dos tempos ocorreram infalivelmente nos seus mínimos detalhes. Hodge e Berkhof têm a mesma opinião quanto a eficácia dos decretos: “[...] nada pode furtar o seu propósito” (BERKHOF, 2003: 98); “A Bíblia declara de maneira especial que as ações livres dos homens estão predeterminada” (HODGE, 2001: 405).
A abertura do livro selado com sete selos (Ap.5) mostra a história da humanidade e com bastante clareza o destino dos homens ímpios e dos escolhidos para a salvação. A mensagem apocalíptica é confortadora, porque Deus governa Sua criação com sabedoria direcionando os eventos para a vitória final, e tudo o que Ele faz é bom, não compreendeis agora, compreendê-lo-ás depois.
Algo bastante interessante sobre os decretos absolutos de Deus é que se tudo foi por ele planejado desde toda eternidade, com toda certeza, nossa salvação, também foi[46]. Por isso podemos dizer com segurança: Aquele que começou a boa obra em nossa vida há de concluir até o dia de cristo Jesus. Como, pois, os arminianos dizem que a salvação, conquistada por Cristo Jesus na cruz, pode ser perdida? Usa-se alguns textos da Bíblia isoladamente, ao pé da letra, sem fazer um exegese do que realmente ele quer dizer, como esse: “[...] aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mt.10:22b). Na verdade, só os escolhidos de Deus perseveram até ao fim, pois é Cristo quem nos guarda:

Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra (Ap.3:10).

Os escolhidos guardaram a palavra porque ouviram e ouviram porque foram vivificados, alcançados pela graça (dom imerecido). Alguns afirmam erroneamente sobre os que não perseveraram perderam a salvação, caíram da graça. Esses tais nunca foram das suas ovelhas, Jesus diz que as suas ovelhas ouvem a sua voz e lhE seguem e teram a vida eterna (cf. Jo.10: 25-30). Essas são promessas de Deus que não falham jamais, passa o céu e a terra, porém suas promessas não hão de passar. Como se pode negar tão grandiosas verdades?


· Os decretos visam a glória de Deus.

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor: Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Rm.11:33-36).

Para Hodge a causa final de todos os propósitos de Deus é a Sua própria glória (cf. Ap.4:11)[47] (2001). Assim, podemos afirmar que, tanto a eleição como a perdição do homem[48], redundam para a glória de Deus (Rm.9:20-24)[49]. Apesar do pecado está dentro dos decretos estabelecidos por Ele, conhecidos como decretos permissivos[50], isso não O torna o autor do pecado[51], muito embora o mal seja necessário para que a glória de Deus manifeste-se como no caso do cego de nascença, em que os discípulos perguntaram: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo.9:2-3). Todo mal que afligiu aquele cego de nascença havia sido pré-ordenado pelo SENHOR e teve seu cumprimento no tempo certo. Todos os passos para que esse momento se realizasse eficazmente, estava assegurado para que assim acontecesse sem que o cego pudesse interferir na sua realização.
Outro grande exemplo é o caso do sofrimento de Jó. Mesmo diante de toda dor ele conseguiu entender que Deus é soberano e Seus planos jamais serão frustrados: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó.42:2).
A ação do homem não é livre, ele age dentro de uma permissibilidade e influência Divina[52], por isso que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus (cf. Rm.8:28)[53]. Assim, a eficácia do cumprimento do plano de Deus engrandece e exalta em toda sua plenitude ao criador.

1.1.3 Objeções aos decretos de Deus.
Os decretos de Deus são negados pelos arminianos porque bate de frente com o livre-arbítrio, com a idéia de que Deus, santo e misericordioso não poderia ter preordenado o mal. O decreto, segundo os arminianos, também, destrói a motivação e conduz ao fatalismo. A. W. Pink lamenta o pensamento errôneo e equivocado daqueles que negam a soberania de Deus[54] afirmando que o destino das suas vidas está em suas próprias mãos. Sobre o arrependimento, diz a teologia arminio-wesleyana citando (Rm.2:4)[55], é obra da graça de Deus sobre a alma humana. Porém, ele pode reagir à graça e não aceitar o que Deus está propondo-lhe: vida eterna. E assim, mudar o destino que Deus havia preparado para eles[56]. Esse pensamento contradiz as Escrituras, Ele não decreta algo para que se cumpra dependendo da vontade humana, o que está claro e não precisa de uma exegese são estas palavras: “Eu o disse, eu também o executarei” (Is.45:11b); “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Sl.115:3). Se Ele fizesse segundo o previsto na decisão que o homem tomaria estas palavras perderiam o sentido. Portanto, é negada a supremacia de Deus na Teologia Cristã usada pelos Nazarenos (que são de doutrina armínio-wesleyana):

Os eleitos são escolhidos, não por decreto absoluto, mas por aceitação das condições da chamada. E assim como o caráter dos eleitos consiste em santidade e pureza diante Dele em amor, a eleição é pelos meios que fazem os homens justos e santos [57].

“A aceitação das condições da chamada”: significa que o sacrifício de Cristo não foi eficaz, depende da disponibilidade do homem em aceitar ou não:

Não obstante, é possível que a chamada seja rejeitada; e mesmo depois de ter sido aceita, a obediência pode ser perdida. Em tal caso usa-se o termo reprovação, mas nunca no sentido de destino ou decreto arbitrário[58].

Como vimos, acredita-se que os decretos do Deus todo poderoso, se existisse, seria arbitrário, incompatível com o livre-arbítrio do homem. No entanto, a Bíblia confirma de Gênesis a Apocalipse que Deus é soberano e age conforme o beneplácito da Sua vontade. O que deve ser entendido é que Deus tinha um plano e ele foi decretado na eternidade para que acontecesse da forma que Ele preordenou. Vejamos dois versículos que comprovam essas verdades:

[...] que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o executarei” (Is.46:10-11); “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Sl.115:3).

A soberania de Deus destrói a visão antibíblica do livre-arbítrio arminiano em que o homem morto nos seus delitos e pecados pode voltar-se para as coisas espirituais cooperando com a graça de Deus para a sua própria salvação. Os teólogos arminianos escreveram:

O arminiano também sustenta a verdade da cooperação entre a graça divina e a vontade humana. O Espírito opera com o concurso humano e por meio dele. Nesta cooperação, contudo, dá-se sempre à graça divina preeminência especial. O Arminianismo insiste em que a salvação é toda por meio da graça. Cada movimento da alma para Deus é iniciado pela graça; todavia, há, ao mesmo tempo, um reconhecimento de que o homem possui o livre arbítrio. A vontade do homem decide em última análise se a graça divina que lhe foi oferecida é aceita ou rejeitada[59].

Esse pensamento é incompatível com a ortodoxia bíblica, pois torna Deus dependente da vontade humana, negando-lhe a soberania e o direito de governar Suas criaturas da maneira como lhe aprouver. Será que o Soberano do Universo precisa da aprovação do homem para que possa salvar aos que por Ele foram predestinados (cf. Ef.1:4, 5, 11)[60] para o louvor da Sua glória? Na opinião de Pink esse pensamento, pelo qual Deus só pode salvar se o homem permitir, torna a vontade do Criador inoperante e a vontade da criatura onipotente (2002: 21). Todavia, a Bíblia confirma a soberania de Deus revelando que Seus decretos jamais serão frustrados, e o que Ele pensou assim acontecerá:

Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes? (Dn.4:35 – grifo nosso).

Esse é o Deus da Bíblia que os reformados conhecem e proclamaram: “Soberano dos reis da terra” (Ap.1:5). Mas, o Deus que é proclamado, hoje, na maioria dos púlpitos, é submisso a vontade humana. Pink escreveu:

“[...] o Deus da Bíblia é diferente do Deus da cristandade moderna! O conceito de deidade que predomina hoje em dia, mesmo entre os que professam crer nas Escrituras, é uma deplorável caricatura, uma burlesca imitação da verdade” (2002:20).
Portanto, dentro da realidade em que se encontra o mundo, muitos fecham os olhos para essa situação, mas se quisermos pregar a verdade da palavra de Deus em um mundo pós-cristão como Francis A. Schaeffer afirma em seu livro “Morte na Cidade” (2003) podemos terminar como Jeremias, atolados na lama.

1.1.4 A questão do mal.
Para os arminianos, é inconcebível que o mal seja preordenado por um Deus santo. Hodge diz que é irracional pensar que Deus não preordenou o pecado, se ele preordenou até a crucificação de Cristo[61]. Em (Is.45:7) está escrito: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas”; “Acaso, não procede do Altíssimo tanto o mal como o bem? Por que, pois, se queixa o homem vivente?” (Lm.3:38, 39). “Isto não quer dizer que Deus seja moralmente responsável pela existência do pecado”[62]. Shedd tem a mesma opinião de Hodge, em afirmar que Deus não é o autor do pecado, nem tenta a ninguém a cometê-lo[63].
Agostinho, pensando o mal, conclui que se tudo que Deus criou é bom não pode, portanto, ser o autor do mal[64]. “[...] como pode haver espaço para o mal no universo, uma vez que Deus fez tudo e tudo o que ele fez é bom? (Conf. VII, V, 7). A pergunta: “Onde está o mal?”, só admite uma reposta que explique todas as dificuldades de Agostinho. O mal não está em nenhum lugar porque o mal é nada” (EVANS, 1995. p.22). Essa é a visão de Agostinho que tem influenciado até hoje o pensamento teológico.
Algo que nos intriga e chama a atenção é o fato de que Deus é um ser soberanamente[65] poderoso, Ele sabe tudo, Seu conhecimento é inato, perfeito, absoluto. Ele vê o todo (passado, presente e futuro) e não em partes. Sua vontade é livre e perfeita. Berkhof fala da extensão do conhecimento de Deus e diz: “[...] Ele conhece o que é possível, como conhece o que existe concretamente; todas as coisas que poderiam ocorrer em certas circunstâncias são atuais para a sua mente” (2002: 65). Diante de tais circunstâncias surge o pensamento: Se Deus é poderoso como diz as Escrituras, por que Ele resolveu criar anjos que iriam se rebelar contra Ele e serem banidos para sempre da Sua presença “[...] para o juízo do grande Dia” (Jd.6)? Sendo Ele poderoso para criar ou não criar, por que Deus resolveu criar o mundo sabendo, pelo Seu poder Onisciente, que o homem pecaria e seria afastado da Sua glória eternamente? Porque aprouve a Ele agir dessa forma, com todo direito de fazer o que bem quiser com os Seus sem que nenhum venha a queixar-se[66]:

Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? (Rm.9:20-21).


Tudo que o SENHOR criou está sobre controle, muito embora o mundo pareça está desgovernado Ele está sentado em alto e sublime trono e todos os reinos da terra O temerão e se lamentarão. A história está caminhando segundo o que foi estabelecido, pois ninguém cria sem que tenha um plano definido; quando alguém constrói uma casa, já tem tudo planejado da planta ao acabamento final. Ao criar, o SENHOR, já havia planejado o começo, o meio e o fim de todas as coisas. “Os anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia” (Jd.6); da mesma forma, o homem quando pecou caindo da graça, Deus não tinha obrigação de salvá-lo, a sua condenação era tão merecida quanto as dos anjos que se rebelaram. Porém, “[...] Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5:8). Por isso, quando Ele salva um e não outro, Ele não está sendo injusto, mas, justo. Ele mostra Sua justiça salvando quem quer: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Rm.9:14); Se Deus morresse por todos, todos seriam salvos. Se Ele morre por todos e todos não são salvos, o plano de salvação não foi eficaz, não haveria poder no sangue daquEle que o apóstolo João afirma: “[...] e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1Jo.1-7). Com certeza, o amor que Ele diz provar para conosco não seria verdadeiro, porque se há perdição não houve prova de amor.
É interessante como Deus age, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, pois lhe parece loucura. Como por exemplo: Deus endureceu o coração[67] dos judeus para que eles não cressem na pregação do Messias e por outro lado trousse luz aos gentios que eram considerados cegos quanto a revelação especial. Há injustiça da parte de Deus por isso? Não, vejamos o que Paulo, movido pelo Espírito Santo, diz:

Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até ao dia de hoje. E diz Davi: Torne-se-lhes a mesa em laço e armadilha, em tropeço e punição; escureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam, e fiquem para sempre encurvadas as suas costas (Rm.11:7-10 – grifo nosso).

Todo mal que veio sobre Israel estava dentro dos propósitos de Deus[68]: a entrada dos gentios na “Aliança da Graça”. A transgressão e o abatimento[69] redundaram em riqueza para o mundo (cf. Rm.11:11)[70]. Em outras palavras, o mal que sobreveio (endurecimento) a Israel tinha um fim específico nos planos de Deus. Nada acontece por acaso, nada está fora dos propósitos eternos de Deus, nenhum mal acontece sem que Deus tenha permitido. Como por exemplo, todo sofrimento de Jó estava dentro da permissibilidade Divina e tudo corrobora para concretização daquilo que foi estabelecido por Ele[71].
O mal, exercido pelo homem, não passa despercebido aos olhos de Deus, mesmo estando nos seus decretos eternos o homem é responsável por tudo que faz[72], o pregador de Eclesiastes mostra tal responsabilidade: “Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec.12:14). Ele não é insensível, mesmo permitindo que o mal aconteça. Toda dor por que passam os oprimidos, um dia se converterá em alegria como no caso do cego de nascença que foi instrumento para manifestação da glória eterna de Deus. Todo o sofrimento por que passou aquele cego foi transformado em alegria, assim será com os que choram, “Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo.13:7). Veja o que é dado aos santos martirizados por causa da palavra de Deus que estão debaixo do altar: “[...] a cada um deles foi dada uma vestidura branca [...]”[73] símbolo da vitória conquistada pelo Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. A vitória final sobre todo o mal é revelada dessa forma:

E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiés e verdadeiras (Ap.21:4-5)[74].




“[...] porque Deus é quem efetua em vós tanto
o querer como o realizar, segundo a sua
boa vontade” (Fl.2:13)






CAPÍTULO II
O LIVRE-ARBÍTRIO
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A questão do livre-arbítrio vem sendo discutida a partir das mais antigas religiões persas[75], chegando aos nossos dias sem podermos dizer que o assunto está esgotado ou resolvido. Neste capítulo veremos a controvérsia entre alguns pensadores em torno da soberania de Deus e da livre vontade do homem onde os que defendiam tal liberdade foram considerados heréticos: Pelágio, Erasmo e Armínio. Falaremos desses três por terem sido os principais propagadores das doutrinas que dividiu o mundo protestante.
A pesquisa caminhará observando a tendência da igreja se desviar da sã doutrina; o que levou esses estudiosos a pensarem de forma a serem considerados heréticos pelas suas convicções. Na verdade, quem está com a razão? Como podemos saber se essas doutrinas que foram condenadas são realmente heréticas?
Em meio a todo desvio doutrinário Deus sempre preserva um remanescente fiel que não dobra seus joelhos a baal, que tem responsabilidade com as verdades do Evangelho. Em tempo de crise o SENHOR levanta esse povo, capacitando e iluminando pelo Santo Espírito a proclamar as verdades bíblicas.
A Reforma Protestante foi um clamor a “Sola Scriptura”. A corrupção na “Igreja Católica Romana” havia chegado ao seu ápice de imoralidade. O povo não tinha acesso à Bíblia, deram ídolos para que eles adorassem; a doutrina não mais existia, havia se corrompido com os vários concílios, e a tradição tomado o lugar das Escrituras Sagradas. Todavia, Deus interviu fazendo uma limpeza na igreja (um grande cisma) dividiu a Europa em Protestantes e Católicos.
A Bíblia foi devolvida ao povo em seu próprio idioma; a “doutrina” voltou a exaltar a soberania de Deus como Senhor sobre todas as coisas, conhecida como “Doutrina Reformada”, com o lema: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Cristus, Soli Deo Gloria. Mas essa “doutrina bíblica” que Deus nos devolveu através dos reformadores começou em pouco tempo a ser, novamente, corrompida a ponto de clamarmos a Deus por outra volta a Bíblia em que Ele receba toda honra, toda glória e toda adoração.
Passaremos agora a analisar o que influenciou esses homens a se desviarem tanto da sã doutrina.

2.1 As heresias pelagianas.
Pelágio foi um teólogo britânico, nascido em 354 d.C, era um homem de vida austera em busca da perfeição cristã. Foi um monge de grande erudição reconhecido por autores antigos como Jerônimo e Osório que o descreveu como sendo de inteligência viva. Sua doutrina, por exaltar o homem, chamava a atenção e fazia muitos adeptos. Vejamos um trecho em que ele exalta a capacidade moral do homem: “Todas as coisas, boas e más, que nos tornam dignos de louvor ou de censura, são feitas por nós, e não nascidas conosco”[76]. Um dos seus maiores discípulos, Celestino, também foi condenado pela igreja. Em Jerusalém conquista até a simpatia do bispo João, mas seus opositores foram implacáveis e suas doutrinas são condenadas por vários sínodos:

“[...] em Cartago que decidiu pela condenação da doutrina pelagiana. Outro sínodo em Diáspole, em 415, condena Pelágio. Em 27 de janeiro de 417, o papa Inocêncio I, ouvindo as opiniões dos adversários de Pelágio e lendo as conclusões dos sínodos já realizados, condena mais uma vez Pelágio e Celestino à excomunhão” (FRANGIOTTI, 1939: 115).
Em 418, o pelagianismo é condenado novamente em Cartago. Em Jerusalém em outro sínodo suas doutrinas foram novamente condenadas e ele expulso da cidade. A seguir observaremos as doutrinas consideradas heréticas, e por que elas foram tão perseguidas pela ortodoxia.

2.1.1 As doutrinas pelagianas.
Paul Tillilch em a História do Pensamento Cristão afirma que a controvérsia Pelágio X Agostinho foi uma das maiores comparada com as cristológicas e trinitárias que vem se repedindo ao logo da história da igreja. Dessa controvérsia os pontos mais importantes do pelagianismo foram condenados, varias vezes, pela igreja e refutados por Santo Agostinho. Mesmo assim, a influência pelagiana foi muito grande. Vejamos os principais pontos combatidos por Santo Agostinho:

a. Há a possibilidade do homem com muita força de vontade viver sem pecar. A pesar da queda, o homem pode vencer o pecado;
b. O homem foi criado a imagem de Deus, mesmo depois da queda, essa imagem continua ativa e poderosa para ser usada para o bem;
c. O homem sempre teve a vontade livre para escolher o bem, mesmo com toda degradação ocorrida com a queda;
d. Não existe pecado original ou pecado herdado. O homem torna-se pecador devido a sua desobediência proposital; mas ele tem capacidade de reverter esse quadro degradante em que por ventura ele venha estar;
e. Nem o pecado de Adão e os maus hábitos dos homens, podem anular seu livre-abítrio de escolher pelo bem ou pelo mal;
f. O pecado de Adão não o tornou mortal. Ele já foi criado como um ser mortal, e teria morrido mesmo que não tivesse caído no pecado;
g. O pecado é um ato, não existe intrinsecamente como fazendo parte da natureza por herança;
h. O homem pode manter a perfeição original e mesmo que a perca pode recuperar;
i. Cada criança nasce como Adão, enfrenta o problema da degradação, mas tem o Livre-arbítrio e pode escolher o bem ou o mal como Adão;
j. O pecado original não existe, visto que ele depende de um ato do Livre-arbítrio, e não de uma herança transmitida de geração em geração (CHAMPLIN, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, 2002: 184, 185).

2.2 As heresias de Erasmo.
Erasmo, homem letrado e erudito da Renascença; moderado por natureza e defensor de uma forma de humanismo cristão. Publicou o primeiro texto impresso do Novo Testamento grego que recebeu, depois, o título de Textus Receptus[77].
Nasceu na Holanda em 1467 e faleceu em 1536. Foi uma figura importante da Renascença. Estudou em Paris, Oxford, Louvain e Turim. Ensinou, também, em Cambridge. Influenciou vários pontos da Reforma, mas nunca rompeu com a Igreja Católica Romana apesar de desejar mudanças na Igreja. O humanismo de Erasmo colocou o homem em igualdade de decisões com Deus. Ele defendia a idéia do livre-arbítrio, ou seja, o homem decidia pela sua salvação. Herança pelagiana que afirmava: “O homem escolhe o bem ou o mal, por sua livre escolha; mas Deus já determinara quem são os seus escolhidos” (CHAMPLIN, 2002: 428). Lutero combateu tais heresias no seu livro, “Nascidos Escravos” em que a soberania de Deus é exaltada. (1525).

2.2.1 As doutrinas de Erasmo
a. “Erasmo argumenta que a pessoa deve ser capaz de fazer alguma coisa a fim de merecer a sua salvação, ou ela não merecerá ser salva”.
b. Definição de Erasmo do livre-arbítrio: “Compreendo o livre-arbítrio como o poder da vontade humana mediante o qual uma pessoa pode aplicar ou afastar-se das coisas que conduzem à eterna salvação” (LUTERO, 1525: 22, 39).

2.3 As heresias arminianas.
No auge da “Reforma Protestante” surgem movimentos que se afastaram da doutrina bíblica. Os anabatistas são um desses grupos que segue paralelo a Reforma, porém o mais significativo foi o movimento liderado pelos seguidores de Jacobus Armínius teólogo holandês (1560 – 1609), nasceu em Oludewater, no sul da Holanda. Foi ordenado em 1588 e de 1603 a 1609 ensinou em Leiden. De formação Calvinista revoltou-se contra alguns princípios teológicos dessa doutrina que achava incompatível com a teologia. Suas idéias ganharam muitos adeptos por ser fácil, simples e paradoxal. Elas foram reunidas e publicadas, depois de sua morte, pelos seus seguidores em um panfleto, com cinco pontos, conhecido como “Remonstrance,” onde são expostas com algumas alterações a doutrina arminiana. A intenção era fazer uma reforma nas doutrinas de fé das “Igrejas Reformadas” na Holanda (países baixos) que só foi resolvido o impasse com o Sínodo de Dort em que os cinco pontos arminianos foram refutados à luz da Bíblia:
Depois da morte de Armínio, em 1609, “A Remonstrância” (pleito, pedido). Com este manifesto, os arminianos tentarem ganhar a simpatia dos líderes da província mais poderosa, a Holanda. Eles declararam que uma revisão do catecismo e da confissão de fé era uma coisa normal, e certamente uma coisa permitida se o governo convocasse um sínodo nacional (DORT, 1618 – 1619: 9).
2.3.1 Os cinco pontos arminianos foram tirados de um manuscrito de Armínio:

· Livre-arbítrio ou capacidade humana.
Embora a queda de Adão tenha afetado seriamente a natureza humana, as pessoas não ficaram num estado de total incapacidade espiritual. Todo pecador pode arrepender-se e crê pelo seu livre-arbítrio, cujo uso determinará seu destino eterno. O pecador precisa da ajuda do Espírito, e só é regenerado depois de crer, porque o exercício da fé é a participação humana no novo nascimento.
Citações Bíblicas: (Is 55:7; Mt 25:41-46; Mc 9:47-48; Rm 14:10-12; 2Co 5:10).

Dort aos cinco pontos arminianos:

Isto é nada menos que anular todo o poder da graça de Deus em nossa conversão e sujeitar a operação do Deus Todo-Poderoso à vontade do homem. É contrário ao que os apóstolos ensinam: cremos ...segundo a eficácia da força do Seus poder... (Ef.1:19), e ...para que nosso Deus cumpra... com poder todo propósito de bondade e obra de fé... (2Ts.1:11), e também... pelo Seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade... (2Pe.1:3) (DORT, . 1618 – 1619: 44, 45).

· Eleição condicional.
Deus escolheu as pessoas para a salvação, antes da fundação do mundo, baseado em Sua presciência. Ele previu quem aceitaria livremente a salvação e predestinou os salvos. A salvação ocorre quando o pecador escolhe a Cristo; não é Deus quem escolhe o pecador. O pecador deve exercer sua própria fé, para crer em Cristo e ser salvo. Os que se perdem, perdem-se por livre escolha: não quiseram crer em Cristo, rejeitaram a graça auxiliadora de Deus.

Citações Bíblicas: (Dt 30:19; Jo 5:40; 8:24; Ef 1:5-6, 12; 2:10; Tg 1:14; 1Pe 1:2; Ap 3:20; 22:17).

· Redenção universal ou expiação geral.
O sacrifício de Cristo torna possível a toda e qualquer pessoa salvar-se pela fé, mas não assegura a salvação de ninguém. Só os que crêem nEle, e todos os que crêem, serão salvos.

Citações Bíblicas: (Jo 3:16; 12:32; 17:21; 1Jo 2:2; 1Co 15:22; 1Tm 2:3-4; Hb 2:9; 2Pe 3:9; 1Jo 2:2).

· Graça resistível.
Deus faz tudo o que pode para salvar os pecadores. Estes, porém, sendo livres, podem resistir aos apelos da graça. Se o pecador não reagir positivamente, o Espírito não pode conceder vida. Portanto, a graça de Deus não é infalível nem irresistível. O homem pode frustrar a vontade de Deus para sua salvação.
Citações Bíblicas: (Lc 18:23[78]; 19:41-42; Ef 4:30; 1Ts 5:19).

· Perda da salvação.
Embora o pecador tenha exercido fé, crido em Cristo e nascido de novo para crescer na santificação, ele poderá cair da graça. Só quem perseverar até o fim é que será salvo.
Citações Bíblicas: (Lc 21:36; Gl 5:4; Hb 6:6; 10:26-27; 2 Pe 2:20-22).
O pensamento arminiano, como vimos, contradiz as Escrituras, torna ineficaz o sacrifício de Cristo Jesus e diviniza o homem ao atribuir-lhe o poder de decidir pelo seu destino negando, dessa forma, a soberania de Deus.
O resultado da controvérsia arminiana x calvinista no “Sínodo de Dort” foi a vitória das doutrinas defendidas nos cinco pontos sobre os remonstrantes em que seus defensores foram condenados e expulso da Holanda por seis anos. Todavia, devido ao pensamento filosófico estóico, ao liberalismo, ao maniqueísmo, ao pelagianismo e o humanismo, os ensinamentos arminianos vêm ganhando nos últimos anos muitos adeptos em todo o mundo. Um dos grandes incentivadores dessa propagação é o espírito antropocêntrico existente em cada ser humano que precisa ser mortificado. Esse foi o motivo da Queda: a auto-suficiência e o desejo de ser um deus (síndrome de Lúcifer).
Refutando os arminianos nos Cânones de Dort.
Os Cânones de Dort refletem o pensamento teológico Calvinista Reformado que vigorava unânime em toda Europa. Antes de citar alguns desses pensamentos, quero salientar que o Calvinismo não é uma nova doutrina criada por Calvino, mas são antigas doutrinas da graça que havia sido abandonadas pela “Igreja Católica Romana”. Essa doutrina é a doutrina de Jesus Cristo, dos apóstolos, pregada por Agostinho, e resgatada pelos Reformadores. Deus sempre preserva um remanescente fiel que não dobram seus joelhos a baal: “Também conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou” (1Rs.19:18); (Rm.11:1-6)[79].
Passaremos a analisar os cinco pontos do Calvinismo composto entre (1618 – 1619) em que expuseram a doutrina Reformada condenando o arminianismo “Remonstrante” considerado herético:

· Depravação total: Incapacidade total do homem.
O homem, depois da Queda, teve sua natureza completamente corrompida pelo pecado. E nesse estado, morto espiritualmente, não poderá em nenhum grau produzir frutos de salvação. Ele está separado de Deus e nada pode fazer para voltar ao estado de santidade que possuía antes da Queda:
Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer ação que os salve, inclinados para o mal, mortos no pecado e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador não desejam nem tampouco podem retornar a Deus, corrigir sua natureza corrompida ou ao menos estar dispostos a essa correção (DORT, 1618 – 1619: 35).

A Bíblia faz muitas afirmações a esse respeito: (Sl.51:5; Jr 13:23; Rm 3:10-12; 7:18; 1Co 2:14; Ef 1:3-12; Cl 2:11-13).

· Eleição incondicional: Decreto eterno de Deus.
Todos pecaram e afastados foram da glória de Deus, estão condenados a morte eterna e Deus não tem obrigação de salvar ninguém, mas aprouve a Ele salvar alguns segundo o beneplácito de Sua vontade, mostrando, assim, Sua misericórdia aos pecadores eleitos para a salvação:

Deus nesta vida concede a fé a alguns enquanto não concede a outros. Isto procede do eterno decreto de Deus. Porque as Escrituras dizem que Ele ...faz estas coisas conhecidas desde séculos... e que ...ele faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade... (At.15:18; Ef.1:11). De acordo com este decreto, Ele graciosamente quebranta os corações dos eleitos, por duros que sejam, e os inclina a crer. Pelo mesmo decreto, entretanto, segundo seu justo juízo, Ele deixa os não-eleitos em sua própria maldade e dureza de coração (DORT, 1618 – 1619: 18).

Citações bíblicas: (Ml 1:2-3; Jo 6:65; 13:18; 15:6; 17:9; At 13:48; Rm 8:29, 30-33; 9:16; 11:5-7; Ef 1:4-5; 2:8-10; 2Ts 2:13; 1Pe 2:8-9; Jd 1:4).

· Expiação limitada: A eficácia da morte de Cristo.
A expiação é limitada porque se Cristo tivesse morrido por todos e todos não fossem salvos a morte expiatória de Jesus Cristo não teria sido eficaz. Quando a Bíblia usa a palavra “todos” ela está se referindo à “todos os escolhidos”, como por exemplo: muitas vezes quando Paulo e os apóstolos falavam “todos” eles estavam se dirigindo a uma determinada comunidade eclesiástica e não a “todas as pessoas do mundo”, em outras ocasiões “todos” significava judeus e gentios. Vejam só! Quando digo para minha congregação: quero “todo mundo” aqui na próxima aula, eu não estou me referindo a “todas as pessoas do mundo”, mas, apenas a minha congregação.

Pois este foi o soberano Conselho, a vontade graciosa e o Propósito de Deus, o Pai, que a eficácia vivificante e salvífica da preciosíssima morte de Seu Filho fosse estendida a todos os eleitos. Daria somente a eles a justificação pela fé e, por conseguinte os traria infalivelmente à salvação. Isto quer dizer que foi da vontade de Deus que Cristo, por meio do sangue na cruz (pelo qual Ele confirmou a nova aliança), todos aqueles e somente aqueles que foram escolhidos desde a eternidade para serem salvos e lhe foram dados pelo Pai. Deus quis também que Cristo os purificasse de todos os pecados por meio do seu sangue, tanto do pecado original como dos pecados atuais, que foram cometidos antes e depois de receberem a fé. E que Cristo os guardasse fielmente até o fim e finalmente os fizesse comparecer perante o próprio Pai em glória, sem mácula, nem ruga (Ef.5:27) (DORT, 1618 – 1619: 3O, 31).

Citações bíblicas: (Jo 17:6,9,10; At 20:28; Ef 5:15; Tt 3:5).

· Graça eficaz: A vontade do homem não é eliminada, mas vivificada.
Embora o homem seja completamente depravado, inclinado para o mal, a graça de Deus o convencerá da justiça do pecado e do juízo. Pois quem resistirá a vontade de Deus (cf. Rm.9:19)[80]? Quando o pecador é convencido, significa que a resistência a Deus foi quebrada. Isso sem violência:

O homem não deixou, apesar da Queda, de ser homem dotado de intelecto e vontade; e o pecado, que tem penetrado em toda a raça humana, não privou o homem de sua natureza humana, mas trouxe sobre ele depravação e morte espiritual. Assim também a graça divina da regeneração não age sobre os homens como se fossem máquinas ou robôs, e não destrói a vontade e as suas propriedades, ou a coage violentamente. Mas a graça a faz reviver espiritualmente, traz-lhe a cura, corrige-a e a dobra de forma agradável e ao mesmo tempo poderosa. Como resultado, onde dominava rebelião e resistência da carne, agora, pelo Espírito, começa a prevalecer uma pronta e sincera obediência. Esta é a verdadeira renovação espiritual e liberdade da vontade. E se o admirável Autor de todo bem não agisse desse modo conosco, o homem não teria esperança de levantar-se da sua queda por meio de sua livre vontade, pela qual ele, quando ainda estava em pé, se lançou na perdição (DORT, 1618 – 1619: 40).

Citações bíblicas: (Jr 23:3; 5:24; 24:7; Ez 11:19; 20; 36:26-27; 1Co 4:7; 2Co 5:17; Ef 1:19-20; Cl 2:13; Hb 12:2).

· Perseverança dos santos: A certeza desta preservação.
“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp.1:6); “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm.8:1, 2); se estamos mortos para o pecado porque fomos vivificados pelo sangue de Cristo como poderemos retroceder e cair do estado de graça em que nos encontramos sabendo que estamos seguros com Cristo e Sua destra nos protege (cf. Jo.10:28)[81].

Os crentes podem estar certos e estão certos dessa preservação dos eleitos para a salvação e da perseverança dos verdadeiros crentes na fé. Esta certeza ocorre de acordo com a medida de sua fé, pela qual eles crêem, com certeza, que são e permanecerão verdadeiros e vivos membros da Igreja, e que têm o perdão dos pecados e a vida eterna (DORT, 1618 – 1619: 49).

Citações bíblicas: (Is 54:10; Jo 6:51; Rm 5:8-10; 8:28-32, 34-39; 11:29; Fp 1:6; 2Ts 3:3; Hb 7:25).
2.4 O livre-arbítrio arminiano nega a soberania de Deus.
Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem não ficou reduzido a um estado de incapacidade total. Deus, graciosamente, capacita todo e qualquer pecador a arrepender-se e crer, mas o faz sem interferir na liberdade do homem. Todo pecador possui uma vontade livre (livre arbítrio), e seu destino eterno depende do modo como ele usa esse livre arbítrio. A liberdade do homem consiste em sua habilidade de escolher entre o bem e o mal, em assuntos espirituais. Sua vontade não está escravizada pela sua natureza pecaminosa... O pecador tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da assistência do Espírito, mas não precisa ser regenerado pelo Espírito antes de poder crer, pois a fé é um ato deliberado do homem e precede o novo nascimento. A fé é o dom do pecador a Deus, é a contribuição do homem para a salvação[82].
2.4.1 O homem não ficou reduzido a um estado de incapacidade total.
Esta é a posição arminiana em relação à Queda: “a natureza humana foi seriamente afetada”. Isso significa afirmar que a corrupção moral ocasionada pelo pecado; a morte espiritual, afastando o homem da presença de Deus, deu-se de forma parcial. Portanto, não ficou reduzida a um estado de “incapacidade total”, podendo responder as coisas espirituais conforme a sua livre-vontade.
Para os teólogos reformados a idéia de incapacidade parcial é antibíblica, nega a Cristo, reduz a graça a vontade humana tornando a salvação pelas obras. Martinho Lutero, o reformador protestante do século XVI, afirma categoricamente que os defensores dessa doutrina consideram os méritos de Cristo de menor valor que os seus próprios esforços[83].
As doutrinas da graça defendidas nos artigos de fé (Cânones de Dort), contra os arminianismo, vêm sendo seriamente banidas da vida eclesiástica pela apostasia doutrinaria que se avulta, nos últimos tempos, de forma avassaladora através de pessoas despreparadas e descompromissadas com a palavra de Deus. Mesmo diante de tão grande fragmentação doutrinária, homens íntegros, sinceros e comprometidos com o Evangelho, Deus têm levantado em defesa das antigas doutrinas da graça.
Qual a fonte em que esses homens ousados e usados por Deus como, Santo Agostinho, Lutero, Calvino, Tyndale, John Knox, Jonathan Edwards, Spurgeon, J. Packer, Paulo Anglada, R. C. Sproul, Palmer Robertson, Carlos R. Cavalcanti e muitos outros, buscaram conhecimento para refutarem as doutrinas arminianas? A Bíblia. Ela é o nosso guia nessa pesquisa que visa, em primeiro lugar, a glória de Deus. Nela encontram-se os fundamentos que apóiam as doutrinas da depravação total e da incapacidade humana de glorificar a Deus. Os arminianos, apesar das evidências a favor da depravação total, estão convencidos de que o pecado atingiu parcialmente a natureza humana e dessa forma eles têm o poder de contribuírem com o Espírito Santo na obra de salvação. A Bíblia ensina justamente o contrário ao afirmar que a salvação é pela graça mediante a fé: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef.2:8, 9). O homem não participa com suas obras para conseguir a salvação, por isso está escrito: “não vem de vós para que ninguém se glorie”, “[...] é dom de Deus [...]”. Os defensores da doutrina arminiana devem gloriar-se com seus princípios humanístico-sinegista que coopera com a salvação devido ao seu livre-arbítrio.

2.4.2 A graça de Deus: um favor imerecido.
A graça (gr. carix - charis) é um presente de Deus ao pecador, sem que ele mereça e sem que ele contribua na obra de salvação. Por quê? Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, estão mortos espiritualmente condenados a perdição eterna e Deus não tem obrigação de salvar ninguém. Mas, aprouve a Ele ter misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia (cf. Rm.9:15)[84]. Onde já se viu um morto espiritual buscar as coisas espirituais? Ou quem está na carne poder agradar a Deus (cf. Rm.8:6-8)[85]? Vejamos o que o apóstolo Paulo diz: “[...] como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus [...]” (Rm.3:10, 11 – grifo nosso). Os arminianos não acreditam, mas o texto é objetivo porque ninguém entende: quem está morto nos seus delitos e pecados (cf. Ef.2:1)[86] como poderia entender? E se não entendem as coisas espirituais como podem buscar a Deus? O homem natural (que não nasceu do Espírito) não compreende as coisas do Espírito de Deus (cf. 1Co.2:14)[87] porque o diabo cegou o entendimento do homem para que não lhe resplandeça a luz do Evangelho da glória de Deus (cf. 2Co.4:4)[88]. Como a Bíblia não se contradiz, não pode haver duas verdades. Pois, todos foram corrompidos totalmente em todas as suas faculdades segundo afirmam os textos bíblicos: o homem foi afetado na mente (cf. Gn.6:5)[89], no coração (cf. Jr.17:9)[90], totalmente depravado da ponta da cabeça até a ponta do pé (cf. Is.1:5, 6)[91], já nasce afetado pelo mal (cf. Sl.51:5)[92]. Ou ainda ficou algo de bom nele depois da Queda, como afirmam os arminianos, que o torna digno de escolher as coisas espirituais? Claro que não! Se existisse, isso seria suficiente para que o pecador chegasse a Deus sem ser pela graça. Como diz o apóstolo Paulo: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm.11:6 – grifo nosso). Para complementar esse argumento Jesus reforça essa defesa afirmando que o homem sem Ele nada pode fazer. Antes da regeneração ele é surdo para ouvir a voz do “Bom Pastor”, sendo surdo ele não compreende as coisas espirituais:

Respondeu-lhe Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão (Jo. 10:25-28 – grifo nosso).

Não precisa de esforços para entender o que o texto de João 10:25-28 está dizendo: só quem houve a voz do bom pastor são suas ovelhas, as que Ele comprou com o Seu precioso sangue vertido na cruz do calvário, ou seja, as que Ele “predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho [...]” (Rm.8:29). Em outra passagem (Jo.8:43, 44)[93] relata que o homem pecador está escravizado a Satanás, esse é o motivo pelo qual não se entende a palavra de Deus. Ninguém pode obscurecer os versículos que são taxativos quanto a predestinação assim como este: “Creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna (gr. αίώνιο)” (At.13:48 – parêntese nosso). “Todos”, aqui significa um número reduzido, ou seja, os eleitos de Deus que foram predestinados para a salvação e não para realizar uma obra como afirmam alguns arminianos.
Os reformados calvinistas entendem a soberania de Deus afirmando que o homem não tem como se voltar ou fazer algo que venha a agradar a Deus se não houver uma intervenção exclusivamente Divina, posto que as nossas obras são como trapos imundos (cf. Is.64:6)[94]. A Bíblia não deixa dúvidas quanto à corrupção total do homem e sua incapacidade de caminhar em direção a Deus:

(Gn.6:5): “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração [..]”;
(Sl.14:2, 3): “Do céu olha o SENHOR para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”;
(Jr.17:9): “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”;
(Mt.7:17): “Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus”;
(Rm.3:10-18): “[...] como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos”.
2.4.3 As comparações de Paulo torna sua mensagem compreensível.
Reflitamos um pouco em tudo que foi citado das Escrituras até agora. Quero, portanto, esclarecer que Paulo faz muitas analogias, como por exemplo: ele compara a morte espiritual, quando diz que “o homem está morto nos seus delitos e pecados”, com a morte física para mostrar o estado deplorável em que o homem encontra-se realmente inerte: incapacitado, totalmente cego para responder ao Evangelho. Se Deus não der vida o homem continuará morto, condenado ao inferno, isso por toda a eternidade (gr. anion).
As Escrituras diz que é Deus, e não nós quem da vida: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados [...]” (Ef.2:1). Se não houver uma intervenção Divina o homem permanecerá morto eternamente porque não há nele disposição alguma para sair da situação de miséria em que se encontra.
Ele também compara a situação do pecador com a de um escravo que está ligado, preso, escravizado a vontade do seu dono podendo fazer apenas o que agrada a esse; não pode libertar-se por conta própria, pois está incapacitado pela sua condição de escravo para tomar decisões:

Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (1Co.2:12, 14 – grifo nosso).
Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres (Jo.8:33-36 – grifo nosso).

Este é o estado do pecador, sem vontade própria para tomar uma decisão, ou seja, seu livre-arbítrio não existe, está escravizado a sua própria natureza depravada. Na condição de escravo, acorrentado, sem poder escolher além do que é de interesse do seu senhor, não pode, portanto, influenciar em assuntos relacionados ao seu próprio destino. Essa é a condição pela qual se encontra o pecador, sem poder dizer: Eu desejo libertar-me das trevas para a luz. Isso só acontece porque não há escolha nem desejo em outro sentido, a não ser em direção da sua natureza pecaminosa, posto que todas as suas faculdades para as coisas Divinas foram afetadas e estão altamente conrrompidas. Dessa forma o desejo humano continua sendo livre para o mal (cf. Jo.8:44); não pode evitar sua compra, ou ajudar nela, ou ainda, depois de ter sido comprado, por alto preço, não querer mais pertencer ao seu novo Senhor (Jesus Cristo) e voltar para o seu antigo dono (o Diabo). Por que não podemos mais voltar para o antigo dono? Diz a Bíblia: “Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm.6:10, 11). Se estamos mortos para o pecado ele “não terá domínio sobre vós” (Rm.6:14). Muito embora essa natureza pecaminosa exista[95], como poderíamos fazer-lhe a vontade estando mortos para ela? Portanto, se estamos mortos para as coisas espirituais não podemos agradar a Deus e responder favoravelmente no sentido de produzir frutos de arrependimento. Da mesma forma quem morreu para o pecado também não pode agradar ao Diabo e responder favoravelmente produzindo os frutos da carne que gera morte. Mas, se, porventura, produzis tais frutos, serão frutos da carne morta e não vivificará a velha natureza que está morta em Cristo Jesus por mais que esses pecados da natureza morta reine no vosso corpo mortal. Paulo alerta para que isso não aconteça: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais as suas paixões [...]” (Rm.6:12).
Todavia, em nenhum momento, quisemos mostrar que o homem não tem vontade. A vontade humana é real, existe, somos responsáveis pelas nossas decisões, porém essa vontade é escravizada:

[...] e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida (He.2:15); Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres (Jo.8:34-36).

2.4.4 A doutrina calvinista da depravação total.
A doutrina Calvinista da depravação total está correta em afirmar que a natureza humana, corrompida pelo pecado, está totalmente morta para as coisas espirituais. O apóstolo Paulo, sobre isso, nos informa que: “[...] todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos, e éramos por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef.2:2-3).
O Catecismo de Westminster mostra que a “[...] queda reduziu o gênero humano a um estado de pecado e misérias [...]” (Rm.5:12); “Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las” (Gl.3:10b)[96]. Só quem nasce de Deus, pode entender as coisas espirituais como afirma o texto: “[...] e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente” (1Co.2:12). Os Luteranos na Formula de Concórdia rebatem o erro dos “sinegistas” e “semipelagianos” afirmando que em coisas espirituais e Divinas, o homem foi afetado completamente e em nada pode contribuir para sua conversão diz o texto:

[...] nem inteiramente, nem pela metade, nem com qualquer parte, mínima ou diminuta, senão que é ‘escravo do pecado’ Jo.8:34, e prisioneiro do diabo, pelo qual é movido. Ef.2:2; 2Tm.2:26. De sorte que o livre-arbítrio natural, segundo a sua disposição e natureza pervertida, é vigoroso e ativo apenas para aquilo que desagrada a Deus e lhe é contrário (Decl. Sl., II, 7, opud, MUELLER, 2004: 237).
2.4.4.1 A depravação parcial arminiana foi refutada no Sínodo de Dort (1618 – 1619) assim:

Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer ação que os salve, inclinados para o mal, mortos no pecado e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador não desejam nem tampouco podem retornar a Deus, corrigir sua natureza corrompida ou ao menos estar dispostos a essa correção (DORT, (1618 – 1619). p.35, artigo. 3 – Incapacidade Total do Homem).

Paulo Anglada no seu livro Calvinismo, sobre a depravação total, mostra que todas as “Confissões Reformadas” tinham o mesmo ponto de vista quanto a depravação ocorrida na natureza humana depois da Queda. Ele faz citações das Confissões: Escocesa, Confissão de Fé dos Países Baixos, o Catecismo de Heidelberg, adotado na Alemanha em 1563, Confissão Helvética e Confissão de Fé de Westminster (elaborada esta entre 1643 e 1649)[97].
2.4.4.2 Os versículos bíblicos usados pelos arminianos.

Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar (Is.55:6-7 – grifo nosso).

Os arminianos vêem nestes versículos motivos de sobra para afirmarem que o perverso tem capacidade de deixar o seu caminho e o iníquo os seus pensamentos convertendo-se ao SENHOR através do livre-arbítrio. Porém, o texto é messiânico e fala no versículo 3 da aliança eterna da graça de Deus, a “Nova Aliança” que o SENHOR fará com a casa de Israel (cf. Jr.31:31)[98] onde o Seu Espírito será derramado sobre toda a carne (cf. Jl.2:28)[99] e colocará nos seus corações o temor do SENHOR (Jr.32:40)[100], arrancará o coração de pedra e porá um de carne (cf. Ez.11:19)[101], Sua Lei será escrita nesse novo coração (cf. Jr.31:33)[102]. Só com uma “Nova Aliança”, em que Deus promete o novo nascimento, o perdão dos pecados e “[...] superiores promessas” (Hb.8:6b) a nação de Israel deixará os seus caminhos tortuosos. Muito embora houvesse uma convocação para que o homem deixasse o seu mau caminho, ele não deixou. Israel foi levado ao cativeiro devido a sua desobediência. É, portanto, na “Nova Aliança”, selada com o sangue do Cordeiro de Deus vertido na cruz do Calvário, e o derramar do Espírito (Pentecostes), que Israel voltará e não mais se apartará do SENHOR: “[...] e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jr.32:40b). Se este texto tratasse do livre-arbítrio do homem, ficaria ainda mais esclarecido que sua natureza era para o mal[103]. Se assim não fosse, seria preciso uma nova aliança? Claro que não! O homem salvar-se-ia pelo cumprimento da Lei. Veja o que diz Lutero a esse respeito:

Se os homens fossem capazes, ainda que o mínimo possível, de movimentarem-se na direção de Deus, não haveria mais qualquer necessidade de Deus salvá-los. Deus permitiria que os homens salvassem-se a si mesmos. Porém, nenhum deles está apto nem ao menos a fazer a tentativa (LUTERO, 1525: 16).

Mas, como ninguém, salvo Jesus, cumpriu a Lei, mesmo sendo ela boa e santa, já nascemos inclinados para o mal (cf. Rm.7:15-19)[104]. Assim sendo, a Lei torna-se inoperante. Devido a sua ineficácia, Deus fez uma aliança melhor, anulando a antiga pela Graça de Cristo Jesus:

Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda (Hb.8:6, 7).


2.4.5 João Wesley ratifica a doutrina da depravação total.
O interessante é que a doutrina do livre-arbítrio armin0iano ou capacidade humana (depravação limitada) foi rejeitada pelo metodista João Wesley. Ele está de acordo com a teologia calvinista da depravação total, porém afirma, assim como os Nazarenos, de doutrina armínio-wesleyana, que quando a graça de Deus mediante Jesus Cristo alcança o pecador ele volta a ter o livre-arbítrio perdido na Queda, podendo decidir se quer ser salvo ou não[105]. Caso decida pela salvação, com o tempo se não perseverar pode cair da fé e perder a salvação como afirma a maioria dos arminianos.
Observemos a doutrina da depravação total empregada no sermão do arminiano João Wesley. Sermon on the way to the kingdom:

Reconhece-te pecador e de que maneira o és. Reconhece a corrupção de tua íntima natureza, pela qual estás muito distanciado da justiça original, e pela qual “a carne cobiça” sempre “contra o espírito”, mediante essa “mente carnal” que “é inimiga de Deus”, que “não é sujeita à lei de Deus, nem de fato o pode ser”. Sabe tu que és corrompido em toda a tua capacidade, em cada faculdade de tua alma. Sabe que és totalmente corrompido em tudo isso, inteiramente pervertido. Os olhos do teu entendimento estão obscurecidos, de sorte a não poderem discernir Deus, ou o que lhe diz respeito. As nuvens da ignorância e do erro permanecem sobre ti, envolvem-te com a sombra da morte. Ainda não sabes nada como devias saber, nem a respeito de Deus, nem do mundo, nem de ti mesmo. Tua vontade não é mais a vontade de Deus, mas está inteiramente pervertida e falseada, avessa a todo o bem, a tudo quanto Deus ama, e inclina-se para todo o mal, para toda abominação que Deus odeia. Teus afetos estão alienados de Deus e se distribuem por toda a terra. Todas as tuas paixões, sejam desejos, ou aversões, alegrias ou dores, esperanças ou temores, estão desajustadas, não se mantêm nas devidas proporções ou têm por alvo objetos impróprios. Assim sendo, não há sanidade em tua alma, mas “desde a planta do pé à cabeça (na expressão forte do profeta) não há coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas”. Tal é a corrupção inata do teu coração, de tua intima natureza... E que frutos podem brotar de tais ramos? Só frutos amargos e ruins continuadamente[106].

2.4.6 Norman Geisler e sua tentativa de conciliar eleição e livre-arbítrio.
Outro nome arminiano da Teologia Contemporânea é Norman Geisler[107]. Influenciado pelo pensamento filosófico humanista, afirma que o homem tem livre-arbítrio e pode decidir se quer ser salvo ou não. Ele tenta provar que a Queda não deixou o homem totalmente incapacitado para as coisas espirituais. Afirma que se essa incapacidade existisse Adão não teria respondido quando Deus o procurou no jardim depois que ele consumou o pecado: “E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás. Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi” (Gn.3:9, 10). O que esse estudioso da Bíblia faz é juntar “livre-agência” com “livre-arbítrio” afirmando que a liberdade de escolher é tanto vertical como horizontal, ou seja, o homem é livre para fazer escolhas tanto no campo social quanto no espiritual. Afirmar que o homem tem livre-arbítrio é desconhecer as sagradas Escrituras. A Bíblia assim declara:

O coração do homem traça o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos” (Pv.16:9); “Os passos do homem são dirigido pelo SENHOR; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho” (Pv.20:24); “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv.21:1); “Visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem puseste limites além dos quais não passará (Jó.14:5).

Quando o apóstolo Paulo queria tomar alguma decisão, ele dizia: “se Deus quiser”: “Mas, despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E embarcando, partiu de Éfeso” (At.1821).
Como podemos afirmar que o homem tem livre-arbítrio se é Deus quem dirige os passos dos eleitos[108] chamados para serem santos e irrepreensíveis diante dEle.
Analisemos o que ele diz: “Mesmo após Adão ter pecado e se tornado espiritualmente morto” (Gn.2:17; cf. Ef.2:1) e pecador “por natureza” (Ef.2:3), ele não era depravado completamente, a ponto de não poder ouvir a voz de Deus ou de dar uma resposta livre (v.cap.4)” (GEISLER, 2005: 36).
Norman Geisler não entende que isso é uma forma de linguagem usada naquela época para que a narrativa pudesse ser entendida. Quero, pois, perguntar ao Dr. Norman, se quando, Deus procurou por Adão, Ele procurou porque não sabia onde ele estava? Ou isso é um recurso lingüístico que torna a narrativa da criação inteligível ao entendimento humano? Muito embora a Bíblia revele como a maldade humana vem aumentando progressivamente, isso não quer dizer que imediatamente após a Queda ele não tenha sido contaminado totalmente e pudesse responder as coisas espirituais. Não, ele pecou e afastado foi da glória de Deus. Esse afastamento é morte, e só através da graça salvadora de Deus em Cristo Jesus o homem pode voltar a ter comunhão com Ele novamente. Berkhof tem a mesma posição que os reformadores quanto a este assunto. Porém, afirma que a depravação do homem vem aumentando e isso leva-nos a pensar que no princípio essa depravação não era tão depravada como se pensa. No entanto, mesmo sua natureza, no início, não sendo totalmente depravada, a imagem de Deus no homem foi afetada de forma que ele não poderia mais voltar, por conta própria, para o estado anterior de santidade em que fora criado (2002). Assim como o apóstolo dos gentios falou aos judeus que acreditavam, e ainda hoje crêem, no livre-arbítrio, certo de que alcançariam a salvação pela obediência à Lei, serve para qualquer seguimento religioso, assim como os arminianos. Vejamos o que Paulo disse: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm.9:16). Os esforços arminianos para conseguirem a salvação são em vão porque ela depende unicamente de Deus[109]:

Quando Deus usa de misericórdia, isso não aponta para uma pessoa que recebe um galardão adquirido pelos seus próprios esforços, mas é a graça livre e soberana que ele oferece a pessoas moralmente incapazes de qualquer esforço aceitável (1.18-3.20)[110].

Devemos defender, com a mesma autoridade, as doutrinas bíblicas das influências que têm surgido no seio da igreja. O apóstolo João advertia sua comunidade quanto a esse perigo: “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2Jo.9)[111]. O apóstolo Paulo admoesta aos que pretendem ensinar outra doutrina: “[...] roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina” (Tm.1:3b)[112]. Era grande a preocupação do apóstolo Paulo com as falsas doutrinas que alguns introduziam nas igrejas. Elas eram recebidas com entusiasmo (cf. Ef.4:14)[113]; há uma facilidade muito grande em aceitá-las, pois geralmente trazem algo novo, que chama a atenção pelos mistérios nelas envolvidos e pela simplicidade com que as mesmas se conformam com o pecado e as injustiças.
Outro gravíssimo problema é o fato de que muitas igrejas estão surgindo com o título de apostólica-ortodoxa, quando na verdade não são. Todas as que se afastaram da fé reformada são apóstatas. E o que é preciso fazer atualmente para resgatarmos a verdadeira mensaigem bíblica? É necessário uma Reforma na igreja, no sentido de retornar as Escrituras, pregar a Palavra de forma a não macular o sentido original, nem tão pouco aplicá-la de forma errônea. Mas, usá-la de tal forma que ela diga e opere em nossas vidas da mesma forma que operou no passado, posto que o homem é o mesmo e necessita da mesma operação miraculosa do Santo Espírito para ter vida. E essa operação sobrenatural dar-se-á pela pregação da Palavra de Deus. E o que se prega hoje nos púlpitos das igreja é um Evangelho corrompito: prosperidade, libertação de maldição hereditária e muitas vezes uma santificação farisaca afirmando que conseguiremos alcançar a plenitude da perfeição cristã nesta vida.

























“Tua, SENHOR, é a grandeza, o poder, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, SENHOR, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos” (Cr.29:11).















CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Deus é soberano e continuará agindo conforme Sua vontade aqui na terra e no céu. É impossível que um ser realmente livre em Cristo Jesus continue pensando que é livre para escolher o bem ou o mal, traçando o seu próprio destino de acordo com sua vontade. Acreditando que pode escolher ou não a Deus contradizendo as Escrituras. O homem não busca a vida porque está morto nos seus pecados. Todavia, “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef.2:1). A vida espiritual, eterna é Cristo quem dá.
Devemos agradecer a Deus por Ele nos ter escolhido nEle em Cristo Jesus para herdarmos o Reino que está preparado desde a fundação do mundo. Como diz A. W. Pink: “Todas as coisas terão de servir necessariamente a esta glória de Deus, inclusive os adversários, o mal e tudo mais[114]. Ele assim ordenou; seu poder o garantirá” (2002: 182).

[...] e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da terra. Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! (Ap.1:5-6 – grifo nosso).

O SENHOR continuará governando e sustentando sua criação como um Ser soberano e eterno, pelos séculos dos séculos. E nós, como súditos obedientes, seremos eternamente gratos por tudo que Ele fez, nos libertando das trevas para Sua maravilhosa luz.























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AGOSTINHO, Santo. O Livre-Arbítrio. São Paulo. Paulus, 2004. 294p.

ARISTÓTELES, Os Pensadores. São Paulo. Editora Nova Cultura Ltda, 2000. 313p.

ANGLADA, Paulo. Calvinismo: As Antigas Doutrinas da Graça. São Paulo. Editora os Puritanos, 2000. 151p.

BÍBLIA DE ESTUDO SHEDD, 1997.

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA, 1999.

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo. Cultura Cristã, 2002. 720p.

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo. Editora Hagnos, 2002.

DONNER, Theo G. A Soberania de Deus e a Responsabilidade Humana. São Paulo. Hagnos, 2005. 79p.

DORT, Os Cânones de. Os cinco artigos de fé sobre o arminianismo. 1618 – 1619. Editora Cultura Cristã.

FALCÃO, Samuel. Predestinação. São Paulo. Cultura Cristã. Tese apresentada ao “Union Theological Seminary”, Richmond, Va., E.U.A. em abril de 1947, em cumprimento de parte dos requisitos para a colação do grau de Mestre em Teologia.

GEISLER, Norman. Eleitos Mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. São Paulo. Editora Vida, 1999. 318p.

GREGOR, R.K. Mc Wright. A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna. São Paulo. Cultura Cristã, 1998. 267p.

HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo. Hagnos, 2001. 1711p.

KENNEDY, James D. Verdades que Transformam: Doutrinas cristãs para sua vida de hoje. São Paulo. Editora Fiel, 2005.195p. p15

LUTERO, Martinho. Nascido Escravo. São Paulo. Editora Fiel, 2001. 93p.

NOVO TESTAMENTO Interlinear grego-português. São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil, 2004. 992p.
PINK, A. W. Deus é Soberano. São Paulo. Editora Fiel, 2002. 183p.

SPROUL, R.C. Eleitos de Deus: O retrato de um Deus amoroso que providencia salvação para seres humanos caídos. São Paulo. Cultura Cristã, 2002. 159.

STRONG, Augustus. Teologia Sistemática. São Paulo. Editora Teológica Ltda, 2002. 680p Volume 1.

TOZER, Alden Wilson. Verdadeiras Profecias Para Uma Alma em Busca de Deus. São Paulo. Editora dos Clássicos, 2003. 416p.






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[1] “[...] assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência [...]” (Ef.1:4-8).

“[...] pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Fl.2:13).


[2] “Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” [...]” (Is.46:9-10).

[3] “Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado [...]” (Ap.4:2).

[4] “[...] e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno”.

[5] “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João [...]”.
[6] “A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à vista, e que essa árvore era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu Deu-o também a seu marido, que com ela estava, e ele comeu” (Bíblia de Jerusalém, 2002).

[7] “[...] mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’” (Gn.3:2b – NVI).

[8] “Replicou-lhe Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado”. “[...] sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos [...]”. “Mas graças a Deus porque, outrora, escravo do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, duma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Porque, quando éreis escravos do pecado estáveis isentos em relação à justiça”.
[9] “O que a perfeição cristã faz é proporcionar graça para regular estas tendências, afetos e paixões, e sujeitá-los às leis mais elevadas da natureza humana” (ORTON, Wiley. H. / CULBERTSON, Paul T. Introdução a Teologia Cristã. São Paulo. Casa Nazarena de Publicações1990. 516p).
[10] “Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm.6:17-18 – Bíblia de estudo Shedd – negrito nosso).

[11] “Mas quando falamos da vontade livre para agir bem, evidentemente falamos daquela vontade com a qual o homem foi criado” (AGOSTINHO, Santo. O Livre-Arbítrio. São Paulo. Paulus, 2004. p.210).

[12] “Disse Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra” (NVI)
[13] “[...] pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”.

[14] SPROUL, R. C. Eleitos de Deus. São Paulo. Cultura Cristã, 2002. p17.

[15] “[...] porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo.5:4).
[16] “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?”.
[17] BÍBLIA DE ESTUDO Shedd. Sociedade Bíblica do Brasil. João Ferreira de Almeida.

[18] “[...] segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor [...]”.

[19] “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”.
“O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações”.

[20] “Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome. Grande é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento não se pode medir”.

[21] “Todas as coisas são feitas de acordo com o plano e com a decisão de Deus. De acordo com a sua vontade e com aquilo que ele havia resolvido desde o principio, Deus nos escolheu para sermos o seu povo, por meio da nossa união com Cristo” (Ef.1:11 – NTLH – Novo Testamento Interlinear Grego Português, Sociedade Bíblica do Brasil, 2004).

[22] “[...] e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”.
“[...] fostes resgatados do vosso fútil procedimento que resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós”.
“[...] sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos [...]”.

[23] “Rm.8:28 – “chamados por seu decreto” – os muitos decretos para a salvação de muitos indivíduos são representados como formando apenas um propósito de Deus. Ef.1:11 – “predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” – note ainda que a palavra propósito está no singular. Ef. 3:11 – “segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Este propósito ou plano de Deus inclui tanto os meios como os fins, oração e resposta, trabalho e fruto” (STRONG, 2002: 523).

[24] “Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos. Então, se cumpriu o que fora dito por intermédio do profeta Jeremias: Ouviu-se um clamor em Rama, pranto, (choro) e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem”.

[25] “Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda da terra”.

[26] “Então, ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem aos hebreus lançareis no Nilo, mas a todas as filhas deixareis viver”.

[27] “E os egípcios puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés”.

[28] “Disse o SENHOR a Moisés: Estende a mão sobre o mar, para que as águas se voltem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavalarianos”. Assim, o SENHOR livrou Israel, naquele dia, da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar”.

[29] (Termo teológico usado para indicar que o homem pecou e afastado está da glória de Deus). Carlos Roberto Cavalcanti.

[30] “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.

[31] “Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará?”.
“Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam o SENHOR”.

[32] “Replicou-lhes Jesus; Se Deus fosse, de fato, vosso Pai, certamente, me havíes de amar; por que eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou”.

[33] “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada”.

[34] “Querer é escolher, e escolher é decidir entre alternativas. Mas há algo que influencia a escolha, algo que determina a decisão. A vontade, pois, não pode ser soberana, porque é escrava desse algo que a influencia e determina. A vontade não pode ser soberana e serva ao mesmo tempo. Ela não pode ser tanto a causa como o efeito, porque, como dissemos, algo a induz a fazer uma escolha; portanto, esse algo tem de ser o agente causal. A própria escolha é afetada por certas considerações e influências; e, se é o efeito, logo deve ser-lhes serva. Ora, se a vontade é serva de tais considerações e influências, já não é soberana. E se a vontade não é soberana, não lhe podemos atribuir “liberdade” (PINK, A. E. Deus é soberano. São Paulo. Editora Fiel, 2002. p.107. 183p.

[35] “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”.
[36] “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai” (Mt.10:29).
[37] “Mas, se ele resolveu alguma coisa, quem o pode dissuadir: O que ele deseja, isso fará”.

[38] “Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura”.

[39] “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, por que isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição [...]”.

[40] “Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei”.

[41] ORTON, H. Wiley / CULBERTSON, T. Paul. Introdução a Teologia Sistemática. São Paulo. Casa Nazareno de Publicações, 1990. p.300.

[42] “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm.3:19-20). “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm.3:28).

[43] “O arminianismo também sustenta a verdade da cooperação entre a graça divina e a vontade humana. O Espírito opera com o concurso humano e por meio dele”. “A vontade do homem decide em última análise se a graça divina que lhe foi oferecida é aceita ou rejeitada” (ORTN, Wiley. H. / CULBERTSON, Paul. T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo. Casa Nazareno de Publicações, 1990. p.300. 516p.

[44] “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”.
[45] “Uma notável expressão sobre a soberania de Deus” (BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA, 1999: 698).
[46] “Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios [...]” (Sl.65:4).
[47] “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”.

[48] “O SENHOR fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso, para o dia da calamidade” (Pv.16:4).

[49] “[...] todos impenitentes, ou seja, àquelas pessoas que por fim se recusam responder favoravelmente aos pacientes apelos de Deus, que Deus manifesta sua ira e faz notório seu poder” (HENDRIKSEN, 2004. p433, 434).

[50] “Todos os atos humanos, quer maus quer bons, entram no plano divino, e assim são objetos dos decretos de Deus, apesar de que a verdadeira atuação de Deus com relação ao mal é apenas permissiva” (STRONG, 2002:524).

[51] “Apesar deste problema atormentador, ainda devemos afirmar que Deus não é o autor do pecado” (SPROUL, 2002:21).

[52] “Sobre seus eleitos, Deus exerce um poder vivificante, dinamizante, orientador e preservador. Sobre os ímpios, Deus exerce um poder restringente, abrandador, direcionador, um poder que endurece e cega, segundo os ditames da sua infinita sabedoria e justiça, visando o desenrolar do seu eterno propósito” (PINK, 2002: 102).

[53] “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.

[54] PINK, A. W. Deus é Soberano. São Paulo. Editora Fiel, 2002. p.19, 20, 21. 183p.

[55] “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?”.

[56] ORTON, Wiley / CULBERTSON, Paul T. Introdução a Teologia Cristã. São Paulo. Casa Nazareno de Publicações, 1990. p.303, 304.

[57] Ibid. p.295 (grifo nosso).

[58] Ibid., p.297.

[59] Ibid., p.300 (grifo nosso).

[60] “[...] assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade [...]”. “[...] nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade [...]”.
[61] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo. Hagnos, 2001. p.408.

[62] BÍBLIA DE ESTUDO Shedd, 1997: 1033.

[63] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo. Hagnos, 2001. p.408.

[64] EVANS, G. R. Agostinho Sobre o Mal. São Paulo. Paulus, 1995. 270p.

[65] “A soberania de Deus recebe forte ênfase na Escritura. Ele é apresentado como o Criador, e Sua vontade como a causa de todas as coisas. Em virtude de Sua obra criadora, o céu, a terra e tudo o que eles contêm lhe pertencem. Ele está revestido de autoridade absoluta sobre as hostes celestiais e sobre os moradores da terra. Ele sustenta todas as coisas com a Sua onipotência, e determina os fins que elas estão destinadas a cumprir. Ele governa como Rei no sentido mais absoluto da palavra, e todas as coisas dependem dele e lhe são subservientes. As provas bíblicas da soberania de Deus são abundantes, mas que nos limitaremos a referir-nos a algumas das passagens mais significativas: Gn.14:19; Êx.18:11; Dt.10:14, 17; 1Cr.29:11, 12; 2Co.20:6; Ne.9:6; Sl.22:28; 47:2, 3, 8; Sl.50:10-12; 95:3-5; 115:3; 135:5, 6; 145:11-13; Jr.27:5; Lc.1:53; At.17:24-26; Ap.19:6”. (BERKHOF, 2002: 73).
[66] “Respondeu-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego: Não sou eu o SENHOR? (Êx.4:11); “Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Acaso, não procede do Altíssimo tanto o mal como o bem? (Lm.3:37, 38); “Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo não estremecerá? Sucederá algum mal na cidade, sem que o SENHOR o tenha feito? (Am.3:6).
[67] Depois de dizer: “Os demais foram endurecidos”, Paulo descreve imediatamente esse endurecimento como um ato de Deus. Ele cita duas passagens do Antigo Testamento. Na primeira, Moisés é o orador; na segunda, Davi” (HENDRIKSEN, 2001: 479).

[68] “Mesmo para os endurecidos há esperança, ou seja, caso arrependam-se. Então será evidente que também pertencem aos eleitos. De uma maneira maravilhosa (ver a interpretação de 11:25) Deus reúne para si um remanescente mesmo dentre uma maioria endurecida” (Ibid, 481).

[69] “O apóstolo chega a esta conclusão: se sua transgressão – o pecado dos judeus em rejeitarem o evangelho – significa riquezas para o mundo, e seu fracasso, riquezas para os gentios, porquanto por meio dessa rejeição se abre a porta para a evangelização dos gentios [...]” (Ibid, 483).

[70] “Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes”.

[71] “O mal é, em última análise, irrelevante. Deus o assume em seu plano para o universo, fazendo-o trabalhar para ele” (EVANS, G. R. Agostinho Sobre o Mal. São Paulo. Paulus, 1995. 270p).

[72] “Então ouvi uma forte voz que vinha do santuário e dizia aos sete anjos: “Vão derramar sobre a terra as sete taças da ira de Deus”” (Ap.16:1).

[73] “Ap.6:9, 11
[74] “Deus informa aos leitores do Apocalipse que ele está fazendo novas todas as coisas (comparar Is.43:9, com a ausência das palavras todas as coisas). Aqui, porém, está o glorioso resultado do plano redentor de Deus, que se concretiza em Cristo: a renovação de todas as coisas” (KISTEMAKER, 2004: 701).
[75] “O zoroastrismo era decididamente uma religião ética. Apesar de conter sugestões de predestinação, de que alguns foram eleitos desde toda eternidade para serem salvos, em essência ela repousava no pressuposto de que os homens possuíam livre-arbítrio, que eram livres para pecar ou não pecar e que seriam recompensados ou punidos na vida futura, de acordo com sua conduta na terra” (BURNS, 1996: 54).

[76] PELÁGIO, opud FRANGIOTTI, 1939: 114.

[77] CHAMPLIN, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo. Hagnos. 2002, p429.
[78] “O rico é tentado a confiar nas coisas terrenas” (Bíblia de Genebra, 1999: 1213).
[79] “Como nos tempos do AT, a obstinada desobediência de Israel não resulta na sua rejeição definitiva. O remanescente fiel, representado por Paulo e outros como ele é prova disto” (BÍBLIA DE ESTUDO SHEDD, 1997: 1597).
[80] “Tu, porém, me dirás: Deus que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?”.
[81] “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”.

[82] “(Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended, Documented, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos)”. Este artigo é parte integrante do portal: http://www.textosdareforma.net. Fonte: http://www.ipb.org – grifo nosso.

[83] LUTERO, Martinho. Nascido Escravo. São Paulo. Editora Fiel, 2001. p.29. 93.p – Publicado inicialmente em 1525. Preparado por Clifford Pond – Editor Geral: J.K. Davies, B.D., Th. D.

[84] “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão”.

[85] “Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”.

[86] “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados [...]”.

[87] “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

[88] “[...] nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”.

[89] Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração [...]”.

[90] “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”.

[91] “Por que haveis de ainda ser feridos, visto que continuais em rebeldia? Toda a cabeça está doente, e todo o coração, enfermo”.

[92] “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe”.
[93] “Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem: É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade [...]”.

[94] “Vestes manchadas pelo sangue da menstruação (Lv.15:19; Ez.36:17; cf. Fp.4:7-8).
Nenhum ser humano está sem pecado aos olhos de Deus (Is.6:5; Jó.15: 14-16)” (BÍBLIA DE GENEBRA, 1999: 854)”.
[95] “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gl.5:17).
[96] “O argumento de Paulo é que ninguém é capaz de guardar a lei na sua totalidade, o que fundamenta pela citação de Dt.27:26. Na continuação da passagem de onde Paulo extrai a citação, Deuteronômio apresenta uma lista de maldições que recairão sobre Israel por desobediência. A maioria dos Judeus, no tempo de Paulo, admitia que Israel havia quebrado a lei e havia recebido as maldições preditas (Dt. 28:15-30:20).
[97] ANGLADA, Paulo. Calvinismo: as antigas doutrinas da graça. São Paulo. Editora os Puritanos, 2000. p.18, 19, 20. 151p.

[98] “Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá”.

[99] “E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões [...]”.

[100] “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim”.

[101] “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne [...]”.

[102] “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.
[103] “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm.7:19).
[104] “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que m mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”.

[105] Manual da Igreja do Nazareno, 2001 – 2005 . (O Livre Arbítrio) Graça Preveniente. p.29.

[106] WESLEY, opud FALCÃO, Samuel. Predestinação. Cultura Cristã, 1989. p.91. 200.p.

[107] GEISLER, Norman. Eleitos, mas livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. São Paulo. Editora Vida, 2005. 318p.

[108] “[...] porque Deus é quem efetua em vós tanto o quere como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fl.2:13).
[109] “ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO. (Rm.9:18). Eleger significa selecionar ou escolher. De acordo com a Bíblia, antes da criação, Deus selecionou – dentre os da raça humana – aqueles que seriam redimidos, justificados, santificados e glorificados em Jesus Cristo (Rm8:28-39; Ef.1:3-14; 2Ts.13,14; 2Tm.1:9-10)”.
“A reprovação é ensinada na Bíblia (Rm.9:14-24; 1Pe.2:8), porém, como uma doutrina, seu significado sobre o comportamento cristão é indireto. O decreto de Deus sobre a eleição é secreto; quais pessoas são eleitas e quais são reprovadas não será revelado antes do Juízo Final. Até aquele tempo, Deus ordena que o chamado ao arrependimento e à fé sejam, pregados a todos” (BIBLIA DE ESTUDO DE GENEGRA, 1999. p.1333).

[110] COMENTÁRIO: Bíblia de Estudo de Genebra. 1999, p.1333.

[111] “O cristão é conservador. Ele não ultrapassa os fundamentos da verdade no ensino de Jesus e Seus apóstolos (Ef.2:20)” (COMENTÁRIO BÍBLIA SHEDD, 1997. p1752).

[112] “Certas pessoas. Expressão indefinida. Paulo não quis apontar ninguém. Outra doutrina. Lit “heterodoxia”, do gr. heteros, “radicalmente diferente”, e não de allos, “outro” “diferente, mas da mesma classe”. Admoestares. Um termo forte para mandar desistir” (BÍBLIA DE ESTUDO SHEDD, 1997. p1687).

[113] “[...] para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”.
[114] “[...] Ele fará que a própria ira humana contribua para o Seu louvor” (KENNEDY, James D. Verdades que Transformam: Doutrinas cristãs para sua vida de hoje. São Paulo. Editora Fiel, 2005.195p. p15).