Uma Análise Bíblica dos Dons do Espírito no Pentecostalismo
por
Rev. Wilbur Bruinsma
Ministro nas Igrejas Protestantes Reformadas
Conteúdo:
I. Os Dons no Pensamento Pentecostal A. O Falar em Línguas B. O Dom de Cura C. O Dom de Revelação D. Como estes dons são adquiridos II. Uma Análise Bíblica dos Dons A. Em geral B. Especificamente 1. Línguas 2. Curas 3. Revelação III. Uma Admoestação Concernente aos Dons
Introdução
Estava profundamente envolvido no sermão que então pregava. Parece que a congregação também. O que aconteceu em seguida veio sem qualquer advertência. Eu fui interrompido no meio de uma sentença pelo que soava como o uivo de um cachorro que está sendo sufocado até à morte. Eu parei e olhei para o canto traseiro da igreja, do qual o estranho barulho estava vindo. Minha família, que estava sentada na fileira da frente, quase pulou do banco. Ninguém mais na congregação parecia tão perturbado pelo som. Eles estavam acostumados com ele. Mas esta foi a primeira vez que fui apresentado aos “dons do Espírito” naquela pequena igreja, por detrás da colina, na Jamaica. Aconteceu uma ou duas vezes mais durante o culto, toda vez interrompendo minha pregação.
Depois do culto, perguntei a senhora que tinha interrompido nossa adoração com seus ataques emocionais porque ela tinha feito isto. Ela me disse que não pôde se conter. O Espírito tomou conta de seu coração e voz e ela não pôde conter os gritos ruidosos. Incidentes deste tipo me levam ao meu primeiro estudo sério dos movimentos de Santidade e Pentecostal e suas influências. Isto também me leva a examinar mais cuidadosamente os incidentes particulares de falar em línguas, curas e revelações registrados na Escritura para chegar a um entendimento bíblico deles.
Os dons do Espírito (charismata, que é o termo grego para “dons”) são vitais para a religião Pentecostal. A outorga destes dons do Espírito aos membros da igreja é o dogma sobressalente do pensamento e adoração Pentecostal. Embora o Pentecostalismo reivindique crer em todas as várias verdades da Bíblia, contudo, a impressionante ênfase em seus ensinos e em sua adoração é sobre o batismo no ou com o Espírito Santo. Este batismo resulta em muitos dons, “charismata”, diferentes. Anne S. White, uma escritora, professora e conselheira no movimento carismático durante a década de 1960 e 70, em seu livro Aventuras de Cura , usa 1 Coríntios 12:4-7 para enumerar o que ela crê ser os nove “dons do Espírito” essenciais. “....São Paulo descreveu os nove dons (ou manifestações) como: a expressão de sabedoria...a expressão de conhecimento...fé...dons...dons de cura...a operação de milagres...profecia...a capacidade de distinguir entre espíritos...vários tipos de línguas...a interpretação de línguas”.
Dentre estes nove “charismata”, os Pentecostais colocam uma ênfase maior sobre três: o falar em línguas, o dom de cura e a profecia ou revelação. Há uma proliferação dos escritos sobre estes dons e suas realizações, e eles estão disponíveis por toda a parte. A maioria destes livros usa a experiência pessoal como o fundamento para suas reivindicações de que estes dons do Espírito ainda estão presentes na igreja de hoje. Embora muitas passagens das Escrituras sejam citadas por estes autores, nenhuma das passagens é cuidadosamente analisada de uma forma exegética para descobrir a validade dos “charismata” hoje. O Rev. James Slay, um ministro e professor na Igreja de Deus [denominação], escreveu um livro intitulado Nisto Cremos , no qual ele tenta provar a partir das Escrituras a presença dos dons do Espírito na igreja moderna. Alguns de seus argumentos serão considerados.
1. Os Dons no Pensamento Pentecostal.
A. O Falar em línguas.
Mencionamos que há três dons do Espírito que o movimento Pentecostal enfatiza acima de todos os outros: o falar em línguas, a fé que cura e revelação. Destes três, o falar em línguas é o mais proeminente.
O primeiro incidente registrado do falar em línguas é encontrado no evento que aconteceu no dia de Pentecoste. De fato, foi neste evento que a presença do Espírito e o falar em línguas estão unidos. Este é também o porque aqueles que hoje ainda mantém o falar em línguas são freqüentemente referidos como Pentecostais.
Lemos deste evento em Atos 2:1-4:
E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
É a este terceiro sinal da presença do Espírito na igreja, isto é, o falar com outras línguas como o Espírito concedia, que os Pentecostais chamam a atenção. Eles fazem isto porque, destes três sinais, este foi o único que continuou depois do dia de Pentecoste. O milagre que foi realizado naquele dia é facilmente explicado: quando o Espírito entrou no coração dos discípulos de Cristo, eles começaram a falar em “outras línguas”, isto é, a falar em idiomas estrangeiros. Estes homens, que eram simples Galileus e não eruditos em idiomas estrangeiros, repentinamente por intermédio do Espírito Santo começaram a falar em muitos idiomas estrangeiros diferentes de forma que muitos que estavam presentes, procedentes de outros países, puderam entender o que eles pregaram naquele dia. Este sinal do derramamento do Espírito não cessou naquele dia.
Os Pentecostais dirigem nossa atenção ao que eles crêem que são outros quatros exemplos que falam disto no livro de Atos.
O primeiro é encontrado em Atos 8:14-17, onde encontramos a igreja de Jerusalém enviando Pedro e João a Samaria, onde o evangelista Filipe tinha pregado.
Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo.
Embora isto não seja explicitamente declarado, é argüido, e isto razoavelmente, que, quando Pedro e João impuseram as mãos sobre os Samaritanos, o Espírito veio sobre estes Samaritanos de forma que, como resultado, eles falaram em outras línguas. Isto é o porque Simão o Encantador queria comprar o poder para conceder este dom aos outros.
O segundo exemplo do derramamento do Espírito em alguém que resultou no falar em línguas é aquele do próprio Paulo e sua conversão em Atos 9:17,18. “E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o SENHOR Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado”. Este verso não necessariamente estabelece a reivindicação dos Pentecostais de que Paulo falou em línguas naquela hora, mas estabelece o fato de que o Espírito Santo foi derramado sobre ele. Mais tarde também, em 1 Coríntios 14:18, Paulo testifica o seu falar em línguas.
O terceiro exemplo do falar em línguas foi registrado para nós em Atos 10 e 11, onde lemos da pregação de Pedro do evangelho à família de Cornélio, um centurião gentio. Nos versos 44-46 de Atos 10 lemos:
E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus.
Neste exemplo não pode haver debate. O milagre de falar em línguas deveras aconteceu na conversão de Cornélio e de sua família.
O quarto e último exemplo registrado em Atos é encontrado no capítulo 19:1-7 onde doze efésios, que ouviram a pregação de João o Batista e foram batizados por ele, agora ouvem o evangelho de Cristo pela boca de Paulo. Paulo explica que João já tinha pregado e batizado no nome de Cristo. Estes homens foram então batizados por Paulo, e o Espírito caiu sobre eles, e lemos que eles falaram em línguas.
Estes são os únicos exemplos que lemos em Atos. Mas a atenção é também chamada pelos Pentecostais para Marcos 16:15-18.
E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.
Nossa atenção é atraída à inegável Palavra do nosso próprio Senhor: este milagre de línguas aconteceria com a vinda do Espírito. O falar em línguas, portanto, foi uma ação que definitivamente aconteceu na igreja primitiva. Isto é evidente, também, em 1 Coríntios 12-14, onde este assunto de forma completa é desenvolvido por Paulo. Obviamente, nas igrejas estabelecidas por Paulo em suas jornadas missionárias, o falar em línguas também aconteceu.
Concernente a estas provas do falar em línguas, o Rev. James Slay escreve (pág.90):
Se tais dons espirituais fossem somente para aqueles que viveram nos tempos Apostólicos, porque o Espírito Santo permitiria que tal informação fosse incluída em Sua palavra? Por que seríamos informados, numa terminologia precisa, sobre o regulamento de um dom se não estava no plano de Deus nos conceder o mesmo? Por que ensinar o filho de indigente como gastar a herança de alguém que não lhe deixou nada?
Novamente Slay escreve (pág. 91):
O batismo do Espírito Santo e o fenômeno de línguas têm uma afinidade que é inequívoca. Esta experiência não é o “fruto do subconsciente” nem é o “balbuciar” de um segmento ignorante da população. Temos evidência escriturística para esta extraordinária manifestação espiritual, e da última nuvem de testemunhas, testificando sua realidade, de forma que tem se chamado a atenção da imprensa nacional.
O argumento que é aduzido pelos Pentecostais, portanto, é simples: a menos que seja trazida uma prova ao contrário, a Bíblia ensina que este dom do Espírito está presente na igreja hoje. Não há razão para crer que este dom desapareceu. A razão pela qual não se pode levar em conta a igreja após o período primitivo é simplesmente esta: a igreja apostatou e negligenciou este dom.
B. O dom de cura
A mesma razão é aplicada ao dom de cura. O próprio Jesus, raciocina-se, gastou a maior parte do Seu ministério terreno curando o povo. A partir de Seu exemplo, é evidente para nós que Ele veio para curar não somente nossas almas, mas nossos corpos também. Foi este dom de cura que Ele prometeu a Sua igreja após o Pentecoste. Novamente, lemos disto em Marcos 16:17-18 (citado acima). Alguns exemplos diferentes foram registrados para nós no Novo Testamento. A Pedro foi dado poder para curar (por exemplo, Atos 3:1-11;5:15). O diácono Filipe, quando pregou em Samaria, curou pessoas que sofriam de paralisia (Atos 8:5-7). Lemos em Atos 6:8 que ao diácono Estevão também foi dado o poder para realizar milagres e maravilhas entre o povo, embora não sejamos informados sobre o que exatamente era isto. O apóstolo Paulo em muitas ocasiões diferentes curou enfermos e expulsos demônios (por exemplo, Atos 14:8-10; 19:11,12).
Como com o dom de falar em línguas, assim também com este dom de cura, os Pentecostais argumentam que se as Escrituras não declaram explicitamente que este dom desapareceu, certamente não podemos erroneamente declarar que sim. Este dom [segundo eles] Cristo ainda dá aos homens de hoje. Nem todo mundo recebe este dom, contudo, somente aqueles que são capazes de se exercitarem poderosamente na fé.
De fato, juntamente com este dom, o carismático tem desenvolvido a idéia completa do poder da oração, uma idéia que tem assolado a igreja pelo mundo inteiro. Eles reivindicam que somente se um crente, que recebeu o poder especial da fé e da oração pelo Espírito Santo, orar o suficiente de forma fervorosa, poderá curar outra pessoa. Ou se isto não acontecer, então, os crentes podem se unir em grupos de oração ou em correntes de oração e invadir o trono de Deus com suas orações que, como resultado, serão capazes de curar o doente! A fé que cura e a oração eficaz fervorosa andam de mãos dados no movimento carismático.
C. O Dom de Revelação.
Finalmente, há também o dom de revelação. Este dom particular do Espírito Santo é baseado na profecia de Joel que Pedro citou em seu sermão no Pentecoste em Atos 2:17,18:
E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos terão sonhos; E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão;
Aqui, também, é um dom do Espírito, e é enfatizado pelos Pentecostais, que existiu na igreja terrena. Embora os exemplos deste dom não sejam tão freqüentes como os dos outros, eles existem. Por exemplo, em Atos 21:8,9 lemos das quatro filhas de Filipe que profetizaram concernente a captura de Paulo pelos Judeus. Da mesma forma, é afirmado que a igreja em Corinto (1 Coríntios 12-14) esteve profundamente envolvida no profetizar. Destas passagens e de poucas outras, podemos assumir [segundo os Pentecostais] que o dom de profecia ainda continua na igreja hoje. Em nenhum lugar a Bíblia nos informa que este dom não está mais presente na igreja.
Nem é este dom para ser considerado equivalente à pregação, na mente dos Pentecostais. Este costume de algumas igrejas não deixa lugar para a obra espontânea do Espírito . Há aqueles na igreja, contudo, que por uma expressão espontânea do Espírito falam palavras que são extra-escriturísticas. Eles podem ainda hoje prever eventos futuros por meio do Espírito. O Espírito controla o coração e a língua de uma pessoa que está se exercitando no Espírito e a guia para falar coisas que ele não pode controlar, assim como faziam os profetas na antiga dispensação.
D. Como estes dons são adquiridos.
Estes são os carismas , os dons do Espírito. E é sobre o adquirir de tais dons que o serviço de adoração nas igrejas Pentecostais focam a sua maior atenção. Frederick Dale Brunner em seu livro Uma Teologia do Espírito Santo , escreve (págs. 132,133):
As reuniões das igrejas Pentecostais têm sido descritas como centradas no banco da igreja, e a descrição é apropriada. Em contraste com o Protestantismo centrado no púlpito e com o Catolicismo centrado no altar, o Pentecostalismo encontra seu centro na crença da comunidade. Os Pentecostais estão interessados, como alguém colocou, que “nunca alcancemos o ponto no qual nossas congregações sejam compostas de meros espectadores, e não de adoradores participativos”. Para evitar este desvio, os Pentecostais tentam oferecer a cada crente uma oportunidade de ativa e pessoalmente participar na vida da igreja. O foco supremo para esta participação é a reunião da igreja. Aqui os dons encontram a sua mais adequada e proeminente esfera de operação.
Há uma certa excitação no serviço de adoração Pentecostal. Todos na igreja são conduzidos a sentir uma certa expectativa ou prontidão para receber um ou mais destes dons.
Todos os tipos de meios são usados para incitar este alto nível de emoção: música que comove a alma, um alto-falante poderoso, testemunhos, gritos de aleluias e améns, e até mesmo risos. Então, começa a acontecer. As almas são emocionadas e o Espírito é dito entrar na adoração da igreja. As pessoas prorrompem em línguas, outros sobem o púlpito e reivindicam estar interpretando as línguas, enquanto ainda outros trazem uma palavra que Deus lhes disse pessoalmente. Alguns cantam um cântico ou se levantam e dançam. Alguns podem cair no chão e tremerem incontrolavelmente. Geralmente é reservado um período especial para que se dêem oportunidades a homens para que curem os enfermos.
Esta é, então, a experiência Pentecostal. Estes são os carismas – os dons do Espírito.
II. Uma Análise Bíblica dos Dons do Espírito. A. Em geral
É importante que analisemos os argumentos dos Pentecostais sobre a base da Palavra de Deus. A Palavra de Deus é o padrão objetivo de acordo com o qual todo ensino deve ser provado para se ver se é verdadeiro. Isto significa que não devemos meramente ler de uma forma superficial algumas passagens da Bíblia que parecem dizer algo que elas não dizem. Antes, significa que devemos examinar a Palavra de Deus para ver o que o Espírito verdadeiramente diz a igreja.
Este panfleto não tenciona analisar todos os aspetos dos ensinos dos Pentecostais sobre os dons do Espírito. Seria preciso, sem dúvida, um livro. O que constitui para os Pentecostais ser o falar em línguas apropriado pode ser criticado; o que está atrás das assim chamadas curas “sobrenaturais” pode ser exposto; o uso impróprio da oração pode ser refutado; o abuso e mau uso do serviço de adoração pode facilmente ser criticado. Mas o objetivo deste panfleto é especificamente analisar de uma forma positiva a posição bíblica sobre os dons do Espírito.
Há duas críticas sobre o acentuado exagero do movimento carismático sobre o adquirir dons do Espírito.
Em primeiro lugar, a ênfase que este movimento coloca sobre os dons do Espírito, rouba o povo de Deus da necessidade de conhecimento das Escrituras. Isto não quer dizer que o movimento Pentecostal não cita ou usa muitas passagens diferentes da Escritura. Seus escritos são cheios delas. Nem quer dizer que não há tempo de forma alguma (embora seja pequeno) gasto com a pregação na adoração das igrejas Pentecostais. Mas a ênfase descomunal que é colocada na adoração e vida sobre o adquirir dos dons do Espírito desencoraja qualquer estudo cuidadoso da Palavra de Deus. No prefácio ao estudo doutrinal de James Slay, a confissão é feita:
A Igreja de Deus conhece o que ela crê e prega, e publica o que crê, mas até agora a Igreja não sistematizou isto numa obra definitiva. Que tal obra não tenha sido completada não representa uma falta de interesse na teologia. Antes, isto provavelmente vem de nossa dependência história sobre a absoluta Palavra como nosso guia doutrinal.
Isto é totalmente uma confissão de uma denominação Pentecostal que existia há setenta e cinco anos no tempo da escrita daquele livro! Não há ênfase sobre o conhecimento objetivo das Escrituras. As Escrituras do Velho Testamento são virtualmente ignoradas. O Novo Testamento é usado, principalmente, como um meio para preparar os membros da igreja para receber os dons do Espírito ou o gozo do re-batismo. Que isto é verdade é manifesto na quase total falta de prova bíblica para a alegação deles de que os carismas ainda existem hoje! É também evidente a partir da total indiferença para a verdadeira obra do Espírito ensinada nas Escrituras. Verdadeiramente o que o profeta Amós falou em Amós 8:11 caracteriza este movimento: é uma fome de ouvir a Palavra de Deus!
Uma segunda crítica que pode ser levantada contra este movimento, falando de uma forma geral, é que ele é mais antropocêntrico do que Teocêntrico ou até mesmo Cristocêntrico; ou seja, é mais centrado no homem do que em Deus ou Cristo. A adoração dos Pentecostais não está centrada na pregação da Palavra. Novamente, não é que lá a pregação seja ocasional. Mas há uma pequena ênfase colocada sobre o ouvir a voz de Deus através de uma cuidadosa exposição e explanação de Sua Palavra por alguém que foi chamado e preparado para assim fazer. A adoração dos Pentecostais está, antes, ocupada em se tentar provar aos outros que alguém tem o dom do Espírito nele. A atenção é chamada ao homem que tem a capacidade de falar “de improviso”, por assim dizer, na frente do povo. É atraída ao cantor com a mais bela voz ou aquele que é experiente em fazer sons que possam parecer que ele está falando numa língua desconhecida. Isto gera desapontamento e desespero nas almas infelizes que estão tentando encontrar o Espírito. Eles começam a se sentir como se fossem Cristãos de segunda categoria!
Há outras críticas que também podem ser feitas sobre a ênfase acentuada que o movimento carismático coloca sobre o adquirir dos dons do Espírito, mas desejamos analisar agora de forma positiva a posição bíblica sobre estes dons.
B. Especificamente.
James Slay identifica corretamente o ponto de desacordo entre os Pentecostais e aqueles que negam suas reivindicações. Ele escreve (pág. 92):
Desta experiência (falar em línguas) ter sido somente para o período Apostólico, deve haver alguma razão lógica por não ter sido estendida até o descanso da igreja. Os apóstolos, que tinham, todos, conhecido ao Senhor, necessitavam deste dom especial para sustentar a sua fé?Necessitavam os contemporâneos de Jesus deste sinal extraordinário para convencê-los, a despeito do fato deles também terem visto e ouvido nosso Senhor?
Estas são questões retóricas que Slay pretende responder com um “não”. Nossa resposta a estas questões, contudo, é “sim”! Tanto os apóstolos como a igreja de Cristo naquele tempo necessitaram deste sinal extraordinário para convencê-los da obra do Espírito Santo na igreja! Isto descansa no fato de que o falar em línguas é um sinal! Um sinal! Aqui está um termo que pouquíssimos dão atenção nesta discussão inteira.
Um sinal, na própria natureza do caso, é algo que desaparece quando a realidade chega. Quando vemos um sinal adiante na estrada, avisando que um restaurante está chegando numa certa saída, então, este sinal nos aponta à realidade que está chegando. Quando passamos por esta saída, contudo, não há mais sinal. Por que? Porque quando a realidade chega, então, não há mais necessidade para o sinal. Esta é a natureza de um sinal. Ele desaparece quando é substituído pela realidade.
Bem, tanto o falar em línguas como a fé que cura são sinais. Não foi o que Jesus disse sobre eles em Marcos 16, que “ sinais ” seguiriam ao que cressem?
1. Línguas
Isto é verdade, em primeiro lugar, sobre o dom de falar em línguas. Paulo escreve em 1 Coríntios 14:22, “De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis”. A questão é, do que o falar em línguas é um sinal? Certamente, ele não apontou simplesmente o derramamento do Espírito Santo. Senão, este terceiro sinal do Pentecoste teria cessado no Pentecoste com os outros dois, ou os outros dois ainda estariam prevalecentes na igreja hoje também. O significado do sinal do falar em línguas é encontrado especificamente nisto: ele era um sinal de que o Espírito foi derramado sobre todas as nações, povos e línguas da terra ! Este sinal de falar em idiomas estrangeiros tinha a intenção de provar conclusivamente a cada um que Deus agora reuniria Sua igreja de todos os povos e famílias da terra. A salvação em Cristo através do Espírito não mais seria limitada aos Judeus, mas seria dada aos povos de toda língua, raça e nação debaixo do céu. Disto, o falar em línguas foi um sinal.
Os apóstolos que conheciam a Cristo, e outros que tinham visto e conhecido nosso Senhor, necessitavam deste sinal extraordinário para convencê-los de que a salvação não mais seria dos Judeus somente! Por que os discípulos de Jesus falaram em línguas diferentes do dia de Pentecoste? Para que os Judeus de todo o mundo, Judeus de várias nações do mundo, pudessem ser trazidos a fé e ao arrependimento pela obra do Espírito.
Por que os samaritanos em Atos 8 falaram em línguas depois de Pedro e João imporem suas mãos sobre eles? Para provar, aos judeus céticos que tinham por séculos impregnado neles que a salvação era somente dos Judeus, que os samaritanos agora também compartilhavam, com os judeus convertidos, das bênçãos de Cristo que o Espírito derrama sobre Sua igreja. Os samaritanos eram odiados pelos Judeus como estranhos ao pacto. Agora, Deus provou que os samaritanos seriam uma parte da igreja e do pacto. Como? Quem poderia negar a existência do Espírito em seus corações, se eles falavam em línguas como no dia de Pentecoste?
O mesmo foi verdade quando Pedro foi enviado a Cornélio e sua casa e pregando a eles, foram salvos por meio daquela pregação. Quem poderia crer que os gentios poderiam ser uma parte da igreja, que poderiam ser os objetos da obra do Espírito em seus corações? Mas quando o Espírito operou neles, então, eles também falaram em línguas, o sinal da presença do Espírito. E quando os judeus em Jerusalém contenderam com Pedro sobre isto, Pedro simplesmente disse, em Atos 11:17: “Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse resistir a Deus?” A estas palavras os Judeus, então, responderam no verso 18: “E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida”.
Este sinal, sem dúvida, acompanhou a pregação de Paulo em outros lugares também. Acompanhou evidentemente em Éfeso, onde os doze efésios que foram batizados primeiramente no batismo de João o Batista foram agora claramente demonstrados que também foram incorporados por esse batismo no corpo de Cristo. Como foi que a igreja de Éfeso, assim também como Paulo, se asseguraram disto? Estes homens falaram em línguas. Obviamente, este mesmo sinal foi usado na igreja em Corinto. Ele é deveras evidente em 1 Coríntios 12-14. Quando Paulo escreveu a esta igreja, contudo, foi para admoestá-los do seu abuso deste dom. “De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis”. As línguas eram um sinal para provar, àqueles que não criam, que o Espírito poderia ser derramado sobre os gentios, não àqueles que já criam nisto. O tema de Paulo em 1 Coríntios 14:22 é, então, este: por que vocês, que crêem que o Espírito está no meio de vós, continuam usando um sinal que tem o propósito de provar isto àqueles que não crêem neste fato?
No capítulo 12 de 1 Coríntios, Paulo coloca este dom no final de sua lista, em importância. No capítulo 14 Paulo coloca limitações estritas sobre o uso deste dom – a mulher não pode usá-lo no serviço de adoração, nem pode alguém usá-lo, a menos que outro possa interpretar o que é dito. No capítulo 13 Paulo declara literalmente (isto não se constata nas traduções inglesas do grego) no verso 8: “se houver línguas, elas cessaram por si mesmas”. Por que? Qual é a razão lógica de seu fim? Eles foram senão um sinal de que Deus agora reuniria Sua igreja de todas as nações do mundo. Uma vez que este fato, esta realidade, foi estabelecido, não há mais necessidade para o sinal. Ele desapareceu lentamente. A igreja agora conhece que o Espírito opera nos corações de todos os crentes de todas as nações, famílias e reinos deste mundo. Este é o porque não há mais línguas hoje. Isto é o porque elas foram necessárias somente no período apostólico.
2. Curas.
E as curas? Jesus nos disse, em Marcos 16, que elas também seriam um sinal. Do que elas foram um sinal? Bem, elas claramente não significam a mesma coisa como o sinal do falar em línguas. O dom de cura não foi um sinal usado no Pentecoste para provar que o Espírito foi derramado. Paulo, contudo, nos revela que elas eram um sinal. Note: 2 Coríntios 12:12, “Verdadeiramente”, Paulo escreve aos coríntios, “os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas”. Em Atos 4:29,30 o apóstolo Pedro pede a Deus para confirmar os apóstolos por meio do sinal de curas: “Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; Enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus”. Aqui, foi um sinal que indicou aos outros a autoridade e o poder apostólico. Paulo usou isto para provar àqueles em Corinto que vocalmente questionavam seu apostolado, dizendo que ele não era um apóstolo.
Foi aos doze discípulos, e um pouco mais tarde a setenta homens que O seguiam, que Jesus durante o Seu ministério terreno deu autoridade para expulsar espíritos e curar as pessoas de suas enfermidades. Após o Pentecoste não lemos mais daqueles setenta homens. Lemos somente dos apóstolos realizando a obra de curar outros. Há somente outros dois homens que não foram apóstolos, Estevão e Filipe, a quem foi dada a autoridade para curar. Não lemos de ninguém mais recebendo este poder para curar. Isto foi dado estritamente àqueles homens que foram apontados por Deus para a obra de estabelecimento da igreja do Novo Testamento; foi dado somente aos apóstolos e então, a outros dois que foram instrumentos no estabelecimento da igreja. Quando estes homens morreram, esta autoridade e poder especial para curar morreram juntamente com eles. E isto porque eram um sinal! Não há mais necessidade de provar a autoridade destes homens e de seu ofício especial na igreja, visto que eles agora se foram. A igreja está estabelecida. Os ministros do evangelho foram ordenados para continuar a obra do ministério. A autoridade apostólica não é mais necessária. O sinal não é mais necessário.
3. Revelação.
E sobre o dom da revelação? Não é difícil provar a falácia envolvida na reivindicação de homens ainda possuírem este dom hoje. Alguns meses atrás recebi em meu e-mail os escritos de um homem que reivindicava que Deus lhe falava por revelação direta. Ele estava então sendo afligido por Deus, assim ele explicou, para compartilhar esta tão importante revelação com outros. Assim, ele me enviou a primeira parte com a explicação de que a segunda chegaria em breve. Eu não podia ajudá-lo, mas dei risadas quando li algo do que ele tinha escrita. Gramaticalmente seus escritos eram horríveis! De uma forma muito estranha, ele também tentou escrever num inglês antigo, como se isto concedesse um ar de autoridade ao que ele escreveu. Evidentemente, Deus lhe falou num inglês antigo. Além de tudo isto, o que ele escreveu era sem sentido, algumas delas dificilmente inteligíveis. Eu lhe escrevi de volta e lhe disse que não me interessava na segunda parte do seu escrito.
Alguns anos atrás um pastor de uma rádio Pentecostal declarou à sua audiência que Deus havia lhe aparecido. Ele disse que Deus lhe declarou que se seus seguidores não dessem alguma quantia exorbitante de dinheiro (a quantia me escapa), Deus estaria tirando sua vida. O homem foi capaz em pouco tempo depois de levantar aquele dinheiro e até mais! Vocês vêem para onde a tolice de uma revelação contínua nos leva?
Revelação não era um sinal da obra do Espírito na igreja primitiva. Revelação, contudo, era realmente dada a um homem pelo Espírito. O Espírito usou a revelação para estabelecer o registro objetivo da Palavra de Deus. Uma vez que este cânon da Palavra de Deus foi estabelecido, a revelação cessou. Não há mais necessidade dela hoje. Temos contido nas Escrituras, de acordo com o seu próprio testemunho (2 Timóteo 3:15-17; 2 Pedro 1:19-21), o infalível padrão de toda verdade. Temos nela tudo o que é necessário conhecer para a salvação. Não necessitamos de nenhuma revelação adicional de homens.
Nós vivemos nos últimos dias. João nos diz que nestes últimos dias haveria falsos profetas reivindicando que o que eles dizem é a verdade. João nos informa em 1 João 4, nos primeiros versos, que devemos provar estes espíritos! Como fazemos isto? Julgando o que eles dizem com o que a objetiva Palavra de Deus diz.
III. Uma Admoestação Concernente aos Dons
Há duas precauções para as quais devemos atentar quando consideramos o erro do Pentecostalismo. Primeiro, não é suficiente saber o que não é a obra do Espírito. Neste panfleto expusemos somente o erro com respeito à obra do Espírito. Como crentes somos também obrigados a conhecer qual é a obra verdadeira do Espírito. Tome tempo para estudar isto. O Espírito é o Espírito de Cristo que nos revela a obra de Cristo por nós sobre a cruz. É o Espírito que opera em nossos corações, quieta e poderosamente, as bênçãos da salvação que Cristo mereceu por nós em Sua morte e ressurreição. Estude estas bênçãos!
Uma outra advertência: que nossa adoração e nossas vidas neste mundo sejam teocêntricas, centradas em Deus. Talvez muitos não abraçaram os extremos deste movimento, mas muitos têm aderido aos raciocínios que estão por destras deste movimento. O aspecto da adoração está mudando, a idéia da oração foi alterada, a necessidade de doutrina é desprezada. O sentimento substitui a verdade objetiva! Devemos tomar cuidado para que estas tendências não entrem sorrateiramente naquelas igrejas das quais somos membros! Que possamos permanecer na Palavra de Deus. Que o nome de Deus possa ser glorificado. Possa Ele ser o princípio e o fim de nossas vidas e da nossa adoração. A Deus, que enviou o Seu Filho para morrer pelos pecadores, seja a glória.
Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo NetoCuiabá-MT, 09 de Abril de 2004.
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domingo, 2 de março de 2008
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